Esquerda milionária e fome de poder

“No Brasil existem milionários de esquerda” (Simone de Beauvoir, ativista política, feminista e filósofa existencialista francesa, 1908-1986).

O jornalista Antonio Callado (1917-1997) ao ler a frase de Simone de Beauvoir que, em suas palavras, consta “numa espantada nota de pé de página” da autobiografia da francesa, ponderou:

“Dona Simone não teve foi tempo de ver muitas outras coisas estranhas que existem no Brasil” (Tempo de Arraes, Editora Paz e Terra, 1979).

Este escrevinhador acrescenta: isto porque ela não conheceu os milionários que vieram depois, montados no poder, a exemplo de Lula da Silva, Jaques Wagner (o homem do sofisticado Corredor da Vitória, em Salvador), ambos sindicalistas espertos e mais uma penca de petistas e esquerdistas que se dizem defensores do povo, mas adoram dinheiro público. 

Esquerdista respeitado e membro da Academia Brasileira de Letras, Antonio Callado amargou duas prisões na ditadura militar: em 1964 e em 1968, por ocasião do fechamento do Congresso Nacional.

O poeta maranhense Ferreira Gullar (1930-2016), outro esquerdista e comunista histórico, que apoiou tenazmente Lula da Silva durante muito tempo – e depois acordou – costumava dizer que “de tanto defenderem os pobres os petistas acabaram ficando ricos”.

Ferreira Gullar, que também pertenceu à Academia Brasileira de Letras, se alongou mais:

“O Lula é a fome do poder. Transparece nele. É a arrogância. Como toda pessoa ignorante, chega a um ponto e não tem autocrítica, não tem medida. Ele disse várias vezes que é o único presidente do Brasil em 500 anos. Porque veio do povo. Do povo vem qualquer coisa” (Entrevista ao Sul21, 26/10/2010).

Há um congestionamento de esquerdistas ávidos por desejos outros que não o bem público. Assim como os hipócritas da direita.

Uns e outros se igualam.

Por isto, Simone de Beauvoir se espantou.

araujo-costa@uol.com.br  

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