Antes que o sol de outono me surpreendesse, ainda madrugada, alcancei o amigo por telefone, sonolento, mas receptivo.
Quase não durmo à noite. Insônia que carrego como companheira desde a juventude.
Como se vê, não é só petista que tem “companheiro e companheira”, eu também tenho, a insônia.
Dado o horário inconveniente, o amigo me ouviu mais receptivo do que eu esperava e foi logo dizendo: “eu ia ligar mesmo pra você, mas esta é hora?”.
À noite anterior, ao assistir ao noticiário, ele descobriu que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) é honesto.
Dizia ele que não há dúvida quanto à honestidade do senador, tamanhos os elogios que a GloboNews e seus comentaristas fazem ao excelentíssimo político alagoano, relator da CPI dos imorais que, vira e mexe, ameaça de prisão atônitos depoentes da comissão.
Confortavelmente acomodado na poltrona da CPI, Renan Calheiros se acha o suprassumo da intocabilidade e promete prender testemunhas como se fosse o cidadão mais correto do Brasil.
Também não duvido da honestidade de Sua Excelência, mas a impressão que tenho é que a corcunda dele já se enverga com o peso dos inquéritos cabeludos e investigações, todos envolvendo rapina de dinheiro público.
E dai? O homem pode ser honesto.
Para atestar a honestidade do senador alagoano é muito simples. Basta que o Supremo Tribunal Federal anule os inquéritos contra Renan Calheiros, que tramitam na Corte, assim como anulou a delação premiada do ex-governador fluminense Sérgio Cabral, que noticiou que o ministro petista Dias Tóffoli recebeu propina de R$ 4 milhões numa complicada e suposta venda de sentença para beneficiar prefeitos fluminenses.
O Supremo Tribunal Federal tem mais o que fazer do que se preocupar com inquéritos de Renan Calheiros. Ocupa-se em absolver corruptos de bolsos abarrotados e a condenar pobres miseráveis de bolsos vazios.
Voltando às madrugadas, um conterrâneo, militar da Força Aérea Brasileira, que morava no Rio de Janeiro, membro da distinta família de Macário Alves, de Patamuté, telefonou-me alta madrugada num dia qualquer da década de 1980 e foi logo dizendo: “eu gosto de misturar alhos com bugalhos” e deitou falação sobre nossa cultura e costumes nordestinos, de maneira que, de fato, conversamos muito sobre alhos e bugalhos e nada sobre coisas importantes, como aliás, acontece em toda conversa entre amigos.
Hoje recorri ao amigo Agamenon Fonseca dos Santos, em Patamuté, irmão do dito conterrâneo, para lembrar-me o nome do notívago militar João Batista.
Minha memória esburacada e a passagem do tempo me permitiram que eu cometesse a gafe de não lembrar o nome de uma pessoa que me telefonou algumas vezes para falarmos de nossa terra.
Quanto ao senador Renan Calheiros e outros “honestos” da CPI dos imorais, Suas Excelências precisam cuidar bem de suas corcundas.
Elas podem não aguentar o peso das maracutaias que aprontam.
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