Aficionado por protozoários, embora médico ortopedista, o senador Otto Alencar (PSD-BA) tem feito tudo para aparecer na CPI do Senado Federal, de olho na candidatura ao governo da Bahia em 2022.
Os holofotes estão fazendo bem ao admirador de protozoários.
Inquisidor espalhafatoso, todo depoente que vai à CPI do Senado é questionado pelo senador baiano como se fosse delinquente. Ele não pergunta, acusa.
É a inversão do dever de inquirir. Acusar, não perguntar.
Otto Alencar não conhece o benefício da dúvida, ou seja, a inexistência da certeza de culpabilidade. Para o senador baiano, qualquer depoente que senta na cadeira da CPI do Senado é presumivelmente criminoso.
Mas o passado do senador baiano não é lá muito puro, nem inquestionável.
Hoje, uma filha de Otto Alencar trabalha no Tribunal de Contas do Estado da Bahia, apadrinhada por Gildásio Penedo Cavalcanti de Albuquerque Filho, ex-deputado estadual pelo PFL e DEM e presidente do Tribunal, que foi filiado ao PSD, partido de Otto Alencar.
Gildásio Penedo é casado com Roberta Alencar de Santana Penedo, sobrinha de Otto Alencar.
Se não for nepotismo – e não deve ser, tratando-se de um Tribunal de Contas sério – é, no mínimo imoral, este apadrinhamento esdrúxulo.
No exíguo período em que foi governador da Bahia, Otto Alencar enfrentou dois episódios que lhe deixaram algumas marcas em sua vida política que ele parece ter esquecido ou finge esquecer.
Otto Alencar foi acusado de patrocinar e/ou acobertar escutas ilegais de adversários políticos, o chamado “escândalo dos grampos”, supostamente a mando do poderoso Antonio Carlos Magalhães (ACM), a maior liderança política que a Bahia já teve.
A Assembleia Legislativa criou uma CPI para investigar o caso, mas Otto Alencar safou-se dela, em razão de maioria que contava a seu favor no Legislativo baiano, lastreada no poder e influência de Antonio Carlos Magalhães a quem Otto Alencar estava pendurado à semelhança de um carrapato.
Ato contínuo, sobreveio o rumoroso caso da EBAL-Empresa Baiana de Alimentos, responsável por uma rede de supermercados públicos. Novamente criou-se uma CPI para investigar suposto rombo apontado no orçamento da empresa estatal.
Mais uma vez, a rede de apoio político de Otto Alencar impediu que ele comparecesse à CPI para depor.
Em 2018, salvo engano, a EBAL foi privatizada, vendida para um grupo espanhol com base em São Paulo e com ela foram-se as Cestas do Povo tão fundamentais para os baianos.
Em 2014, Otto Alencar foi condenado pelo Tribunal Regional Eleitoral da Bahia, com base em propaganda antecipada feita em Ruy Barbosa, sua cidade natal, por ter distribuído adesivos e pintado muro noticiando sua candidatura, sem amparo na legislação eleitoral.
Pelo que se vê, tirante o serviço voluntário que Otto Alencar prestou às Obras Sociais Irmã Dulce – e neste ponto ele merece ser elogiado – seu passado não parece tão irrepreensível assim, a ponto de habilitá-lo como feroz acusador de depoentes da CPI do Senado Federal.
Todavia, diz a lenda que Otto Alencar tem uma rede de amigos prefeitos, ex-prefeitos e membros de Câmaras Municipais nos 417 municípios baianos, em razão de ter sido conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios durante seis anos. Mas esta é outra história que não vem ao caso.
Arrogante e inconveniente, Otto Alencar se acha a última bolacha do pacote na CPI do Senado. O diabo é se os eleitores baianos descobrirem que a bolacha pode estar estragada e não faz bem.
Como diz o ditado, “humildade e caldo de galinha não faz mal a ninguém”.
O retrovisor do senador Otto Alencar deve estar quebrado. Ele não consegue ver seu passado nebuloso.
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