A inocência de Bolsonaro e a esperteza de Lula da Silva

“Em política, sempre é preciso deixar um osso para a oposição roer” (Joseph Joubert, ensaísta francês, 1754-1824)

O erro grosseiro e rudimentar do presidente Bolsonaro é este: não deixar o osso para a oposição roer. Recolheu e agarrou o osso para si e seus aliados.

Oposição adora um osso, que se traduz em cargos para amigos e parentes, mordomias, benesses e outras vantagens mais à custa do dinheiro público. E depois vai à imprensa dizer que é honesta. E há quem acredite que toda oposição é honesta.

Há um senador de passado nebuloso na CPI da Pandemia do Senado Federal, que bolsonaristas mais exaltados o apelidaram de “gazela saltitante”, que aparece escandalosamente diante dos holofotes, mais que todos os membros da comissão, dizendo-se o suprassumo da honestidade.  

Como não entendo de gazela – e muito menos saltitante – acho que aquele senador exagera somente com o intuito de aparecer. Supera Renan Calheiros no quesito cara de pau.

Todos os brasileiros conhecem a conduta escabrosa do senador Renan Calheiros. Mas esta é outra história.

Renan Calheiros está lá no Senado Federal, “honestíssimo”, “combatendo a corrupção”, segundo ele.

O presidente Bolsonaro é politicamente inocente, não obstante quase três décadas na Câmara dos Deputados. Nada aprendeu lá, antro dos conchavos nem sempre transparentes.

Bolsonaro pensa que pode tudo. Não pode.

Ninguém pode. Lula da Silva precisou recorrer ao mensalão, para comprar parlamentares corruptos, surrupiar dinheiro de estatais, imiscuir-se nos cofres da Petrobrás e outras reprováveis condutas mais.

Malandro forjado nas madrugadas frias regadas a cachaça, portarias de fábricas do ABC paulista e Sindicato dos Metalúrgicos, Lula sabia e sabe que o dinheiro amolece. Seguiu o caminho natural. Comprou corruptos, governou oito anos e ainda elegeu a sucessora, Dona Dilma Rousseff.   

Muitos desses parlamentares comprados ainda estão lá, posando de honestos.  

Fernando Henrique Cardoso, do alto de sua experiência de sociólogo e judiado pelos tropeços do exílio imposto pela ditadura militar, também amaciou a aposição e governou, sem problemas.

Todos os presidentes valeram-se de negociação às escuras com o Congresso Nacional para poder governar.

As exceções foram Jânio Quadros (UDN) e Fernando Collor (PRN), que caíram exatamente porque achavam que os parlamentares eram sérios. Deu no que deu. E continuaram achando, mas fracassados.

Jânio incorruptível e Collor arrogante não governaram. Muitos dos corruptos que os impediram, ainda continuam comandando a política em seus estados e redutos eleitorais e no Congresso Nacional.

O presidente Bolsonaro fala demais e quem “fala muito dá bom dia a cavalo” e há muitos cavalos no Brasil.

Bolsonaro está fragilizado diante da maioria dos brasileiros, popularidade em baixa e pressão por todos os lados, principalmente de corruptos que perderam a mamata com sua ascensão ao poder.  

Bolsonaro não se portou corretamente diante da pandemia do coronavírus, como a população esperava.

O ex-presidente Lula da Silva, embora cauteloso, está aí posando de honesto, com o aval do Supremo Tribunal Federal. É tudo. 

“Malandro moderno” – diria Bezerra da Silva – Lula da Silva sabe conversar com corruptos.

Bolsonaro não sabe. É grosseiramente inocente.

araujo-costa@uol.com.br       

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