Curaçaense ou não?

Escrevinhador desavisado, fui repreendido por uma insigne e atenta leitora, porque num texto que escrevi recentemente sobre o ínclito Dr. Hélio Coelho Oliveira, honra e glória de Barro Vermelho, lá o qualifiquei como “advogado e professor curaçaense”.

A leitora ensinou, didaticamente: “quem é de Barro Vermelho é barro-vermelhense, não é curaçaense”. “Há uma certa distinção”.

Do alto de minha ignorância, um tanto envergonhado e apoucado por não saber disto, engoli o ensinamento, que agradeço à leitora, mas confesso que consultei algumas publicações de gentílicos com o intuito de amparar minha pretensa sabedoria, que vai se escafedendo aos poucos e esvoaçando-se como cinzas ao vento.

Tenho curiosidade enciclopédica.

Em nenhuma dessas publicações consegui captar a distinção da naturalidade que há – ou deve haver – entre quem nasce no bairro, vila, povoado, sítios, arruamentos ou fazendas e quem nasce na sede do município ao qual pertencem.

Santa ignorância esta minha!

Beirando idade septuagenária ainda cometo gafes deste tamanho. Bem feito. Quem manda escrever sobre assunto que não conheço?

Cada dia me convenço de minha insignificância como jornalista e cronista.

Conseguintemente, entendo que quem nasce no território do município é natural do município.

Para este escrevinhador, até parece óbvio, embora não deva ser óbvio tanto assim.

Na mesma linha, por exemplo, entendo que é juazeirense quem nasce em Juremal, Salitre ou Piranga, em Juazeiro.

Mutatis mutandis, como dizem os latinistas, quem nasce em Patamuté, não obstante ter nascido lá, é curaçaense, como é o caso deste escrevinhador.

Sou patamuteense orgulhoso de ser de lá, mas não abdico de minha condição de curaçaense e até a ostento por onde ando.

Sinto-me lisonjeado quando aqui, no Sudeste, alguém pede minha cédula de identidade e lá está pomposamente delineada minha naturalidade: Curaçá-Bahia.

Dá uma vontade danada de dizer bem alto, para os circunstantes ouvirem: tá vendo aí? Sou de Curaçá.

Por exemplo, parece lógico – ou imperativo – que é soteropolitano quem nasce nos bairros da Pituba, Brotas, Cabula, Rio Vermelho ou Capelinha de São Caetano, em Salvador.

Atarantado, recorri aos meus alfarrábios, que são muitos e desorganizados, tropecei pelos Caminhos de Curaçá, do conspícuo sociólogo Esmeraldo Lopes e nada encontrei sobre a diferença entre ser barro-vermelhense e curaçaense.

Só não consultei a secular Descripção História e Geographica do Município de Curaçá, de meu conterrâneo João Mattos, de Patamuté, nem a Relação de uma missão no Rio São Francisco, do frei Martinho de Nantes.

Ainda folheei as anotações de Enquanto Enlouqueço, do professor e jornalista Lugori, outro curaçaense de respeito.

Debalde. Minha dúvida persiste.

Prometo que ainda vou descobrir. E aprender, para não sair por aí cometendo essas gafes monumentais.

araujo-costa@uol.com.br

Deixe um comentário