Atividade de pecador e dissidência demagógica

“Política é uma atividade para pecador” (Hermes Lima, político, jurista e jornalista baiano, 1902-1978)

Atividade de pecador, a política se sustenta em conchavos e, mais do que isto, costuma fincar tentáculos efêmeros na lama, tentáculos esses nem sempre revelados ou reveláveis.

Lula da Silva estava negociando com o chamado Centrão, bloco de partidos políticos formado de parlamentares fisiologistas, com assento na Câmara dos Deputados e ramificação no Senado Federal.

Lula manobra para que o bloco de partidos abandone o governo Bolsonaro e alie-se à candidatura petista em 2022.

O senador Renan Calheiros do MDB-AL, partido integrante do Centrão, está cavando a chance de ser candidato a vice-presidente na chapa de Lula da Silva em 2022 ou colocar seu filho e governador de Alagoas como companheiro de chapa do ex-presidente.  

Por isto, os ataques de estrelismo de Renan Calheiros na CPI da pandemia, onde os holofotes são mais importantes do que a investigação.

Se o senador Renan Calheiros emplacar seu nome na vice de Lula da Silva, juntar-se-á a fome com a vontade de comer: os inúmeros inquéritos de Renan em andamento com o histórico nebuloso de alguns petistas e, por extensão, do PT.

Mas o Centrão gosta de dinheiro. Muito dinheiro. Não pode esperar essa definição.

Entre a promessa de um cheque em branco de Lula da Silva, para somente ser preenchido em janeiro de 2023 – condicionado à vitória do ex-presidente – e a imediata abertura do cofre de Bolsonaro, o Centrão preferiu não esperar. E sinaliza cair de vez nos braços de Bolsonaro, sem nenhum pudor.

Se nada mudar, o presidente nacional do Partido Progressista (PP), âmago do Centrão, vai ser mesmo ministro da Casa Civil do governo, o ministério mais importante, espécie de coordenação geral de toda a máquina política e administrativa do governo federal.

Portanto, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) poderá assumir a Casa Civil. Sua mãe Eliane Nogueira, que é primeira suplente, assumirá uma cadeira no Senado Federal, o Centrão toma conta dos cofres da República e tudo continua como dantes, sem nenhuma novidade.

Essencialmente clientelistas e ávidos por cargos e benesses, sem nenhuma firmeza ideológica, os parlamentares do Centrão têm como objetivo primeiro a aproximação com o governo, qualquer governo, seja de direita, de esquerda ou saia das catacumbas.

Quando o governo de plantão não cede aos interesses do Centrão, seus parlamentares engendram uma dissidência fajuta e passam a votar contra todas as matérias de interesse do governo.

O presidente Jânio Quadros dizia, com muita propriedade e do alto de sua experiência: “O Congresso Nacional é um clube de ociosos em permanente dissidência demagógica”.

Todavia, como no Brasil “até o passado é incerto”, o futuro próximo do governo Bolsonaro pode mudar de rumo a qualquer momento e direcionar-se por outro caminho.

Mas é o que está delineado, por enquanto.

araujo-costa@uol.com.br

Deixe um comentário