O assunto é recorrente e até faz parte da cultura nacional: a preguiça de baianos e cariocas.
O jornalista mineiro Ivan Ângelo diz, em brilhante crônica: “No caso dos baianos, é mais estilo do que preguiça. É ritmo. Enquanto outros praianos descansam a metade da semana e trabalham a outra metade, os baianos vão trabalhando e descansando ao mesmo tempo”.
Como se vê, um mérito. Os baianos também sabem inventar. Somos inventores de coisas difíceis de serem imaginadas como, por exemplo, conviver com governantes ruins. E assim vamos levando, enquanto os políticos não acabam com a Bahia. Bem que eles vêm tentando há séculos.
Cronista e romancista, Ivan Ângelo foi buscar lá, no começo do século XX, um amparo para sustentar essa suposta preguiça nossa.
Conta que o poeta Olavo Bilac escreveu que, em 1903, diante da grande quantidade de pessoas desocupadas no Rio de Janeiro, ouviu a seguinte pergunta de um jornalista argentino: “Que faz toda essa gente, que ampara as paredes das casas com as costas?”
Parece que o argentino confundiu não ter o que fazer com preguiça.
Hoje é pior. Temos milhões de brasileiros desempregados, subempregados, desalentados, desamparados, desesperançados.
Na condição de baiano, ergo-me em defesa de todos nós de minha encantadora província. Não somos preguiçosos. Damos um duro danado. Talvez tenhamos uma malemolência elegante, filosófica, uma sábia forma de viver.
Grande entendedor de hábitos e costumes baianos, o cantor Dorival Caymmi vivia em constante malemolência, mesmo morando no Rio de Janeiro.
Honra e glória da Bahia, Caymmi ria-se desse seu estado de graça e enfeitava essa sua maneira de viver e de muitos baianos.
Até Toquinho e o poeta Vinícius de Moraes – Vinícius morou em Salvador – entenderam esse espírito baiano e cantaram Tarde em Itapoã:
“Depois, na Praça Caymmi
Sentir preguiça no corpo
E numa esteira de vime
Beber uma água de côco”.
Baiano não é preguiçoso. Sente preguiça no corpo, o que é diferente. Não cuida dessa arte de amparar paredes.
Pala lembrar:
No próximo ano serão comemorados 200 anos da Independência do Brasil. Em 1972, a ditadura militar – governo Emílio Garrastazu Médici – lançou o Hino do Sesquicentenário que fez sucesso até em clubes de carnaval.
Lá para tantas, o Hino diz: “O Brasil faz coisas que ninguém imagina que faz”.
O Brasil está precisando fazer algumas coisas em benefício dos brasileiros, dentre elas possibilitar emprego e comida para todos e não somente para os ricos.
Isto é possível imaginar.
Não podemos nos transformar em miseráveis e famintos, como se estivéssemos nos escombros de uma guerra.
A guerra que o Brasil vive é outra: falta de vergonha do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, em todas as esferas de governo.
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