Quando presidente do Consórcio Nordeste, Rui Costa (PT), governador da Bahia, comprou, pagou adiantado – e não recebeu – 300 respiradores da empresa Hempcare Pharma que, segundo ela própria anunciou, entende de confecção de roupas femininas íntimas e importação de medicamentos à base de maconha.
Números de funcionários da empresa à época do contrato: dois, apenas dois.
Qualquer aprendiz ou estagiário de departamento de compras não faria a aquisição sequer de um copo plástico de uma empresa dessas. Está na cara que a empresa é inidônea relativamente ao quesito respirador.
Mas Rui Costa não vislumbrou nenhum problema. Fez o negócio milionário.
Esses respiradores seriam distribuídos aos nove estados do Nordeste. Suas Excelências os governadores da região formaram um complô político e o denominaram Consórcio Nordeste, a pretexto de promoverem o crescimento sustentável e o desenvolvimento social.
Os governadores nordestinos se fecharam iguais a tatu-bola e silenciaram quanto à maracutaia que engoliu R$ 48 milhões de dinheiro público e não receberam um respirador sequer. Nem vão receber.
Como se vê, a empresa contratada entende tanto de respiradores quanto alguns membros da CPI da Pandemia do Senado entendem de honestidade.
A grande imprensa noticiou o fato timidamente. Não pode fazer estardalhaço. Os governadores nordestinos fazem oposição ao governo federal e, como tais, a imprensa os trata muito bem. Isto os habilita a serem os queridinhos da imprensa.
A CPI da Pandemia do Senado deu de ombros quanto ao assunto.
O que se pode esperar de uma CPI presidida por um ex-governador acusado e investigado de desviar R$ 260 milhões da saúde em seu estado?
O que se pode esperar de uma CPI cujo relator coleciona inquéritos no Supremo Tribunal Federal, versando sobre corrupção e lavagem de dinheiro, dentre outros crimes?
Em data recente, o governador Rui Costa prestou depoimento à Polícia Federal sobre o caso. Discípulo aplicado de Lula da Silva foi logo dizendo: “Não sei de nada”. E não disse mais nada e, suponho, nem lhe foi perguntado.
Como o inquérito envolve o governador Rui Costa na condição de investigado, a suposta “capivara” deve ser enviada ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), órgão competente para conhecer, processar e julgar governadores de estado, que vai dizer qual o próximo passo.
A revista Veja apurou: “O negócio, fechado a toque de caixa através do WhatsApp e com pagamento adiantado, previa a compra e a distribuição dos equipamentos aos nove estados da região”. A revista vai além: “O negócio, desde o início, foi planejado para dar errado” (Veja, 23/07/2021).
Mais, segundo a Veja: “A microempresa, como se sabe, na verdade aplicou um monumental golpe: sumiu com o dinheiro e nunca entregou as máquinas”.
Esta história vai longe. E vai dar em nada.
Interessante é que os governadores do Nordeste cobram eficiência do governo federal quanto ao combate à pandemia. Enquanto isto, enterram R$ 48 milhões que deveriam ser usados no combate à doença.
O governo federal foi negligente, o que não se pode negar. O presidente da República deve ser cobrado por isto.
Mas daí a dizer que os governadores nordestinos são eficientes no combate à pandemia vai uma longa distância.
Sempre entendi que o governador Rui Costa é o nome mais abalizado do PT para disputar a presidência da República em 2022. Melhor do que Lula e melhor do que Haddad.
Mas, diante de tudo isto, pergunto:
Até tu, Rui Costa?
Post scriptum:
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) tem feito equilibradas intervenções na CPI da Pandemia no Senado Federal.
Ex-Delegado Geral da Polícia Civil de Sergipe, o senador Alessandro Vieira deve ter aprendido muito sobre o andar de investigações com o ínclito Dr. João Eloy de Menezes, que vem construindo rica e ilibada história na Secretaria de Segurança Pública de Sergipe.
O Dr. João Eloy de Menezes é filho de Chorrochó e provém de família exemplar do município. Conduta irrepreensível, tem e dá bons exemplos.
araujo-costa@uol.com.br
Uma consideração sobre “Os respiradores de Rui Costa”