Tanques militares e pijamas listrados

“Como são horrorosos os pijamas listrados!” (Jânio Quadros, 1917-1992)

 Sabe-se que a Marinha do Brasil há muito havia programado para 10/08/2021, em Brasília, um desfile pela Esplanada dos Ministérios e Praça dos Três Poderes.

Não se faz um evento dessa envergadura de um dia para outro, sem programação, sem agenda, sem contornos antecedentes.

Entretanto, às vésperas do movimento da Marinha, o presidente da Câmara dos Deputados pautou a votação do voto impresso para o mesmo dia do desfile da Marinha, 10/08/2021.

Em meio à balbúrdia, o presidente da Câmara entendeu tratar-se de uma “trágica coincidência” e, logo, não é bem certo dizer que os tanques militares foram pressionar a votação do voto impresso pautada para o mesmo dia 10/08/2021.

A oposição ao governo federal alvoroçou-se.

Aliás, este é dever da oposição: criar dificuldades ao governo, qualquer que seja a oposição, qualquer que seja o governo.

Os radicais do PSOL e Rede Sustentabilidade ajuizaram mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal para impedir o desfile. Uma idiotice inominável.

O ministro Dias Toffoli indeferiu de plano o mandado de segurança, por razões processuais e, parece, encaminhou para a instância correta.

Os advogados do PSOL e Sustentabilidade faltaram às aulas de Direito Constitucional no que tange à competência dos tribunais.

A competência para conhecer e julgar mandados de segurança contra atos dos chefes das Forças Armadas é do Superior Tribunal de Justiça e não do Supremo Tribunal Federal. Está na Constituição Federal, capítulo que trata da Organização dos Poderes.

Simples assim. Qualquer primeiranista de Direito sabe.

De qualquer forma, a tentativa do PSOL e Sustentabilidade de impedir o desfile restou frustrada, tamanho o despropósito. Forma errada de fazer oposição, forma atabalhoada de ajuizar ação.

O simbolismo em política vale, mas nem tanto. E coincidência não é simbolismo.

A oposição está preocupada com alhos e bugalhos.

Falta-lhe conteúdo em suas ações. Falta-lhe a estratégica oposicionista de Ulysses Guimarães.

Quem não gostou da decisão de Toffoli foi o jornalista radical lulopetista Kennedy Alencar. Kennedy foi implacável com o petista Toffoli, porque não impediu o desfile: “o ministro Dias Toffoli continuou firme no projeto de ficar ao lado de Bolsonaro na História: a lata de lixo” (Uol, 10/08/2021).

Como se vê, os petistas estão se estranhando.

Quanto ao capitão-presidente Jair Bolsonaro, ele praticou um furdunço danado nesta história do voto impresso. Sem necessidade.

Talvez fosse o caso de, com urgência, o presidente recolher-se, vestir um pijama e refletir um pouco sobre a situação do Brasil, que é muito mais grave do que o voto eletrônico. 

O jornalista Elio Gaspari conta um episódio sobre 25 de agosto de 1961, dia da renúncia de Jânio Quadros.

Diante do ato tresloucado do presidente, um coronel ponderou: “Naquela manhã de 25 de agosto, o que faltou foi alguém que trancasse o Jânio no banheiro do palácio”.  

O presidente Bolsonaro precisa trancar-se no banheiro, antes que alguém o tranque, se não quiser vestir o pijama listrado.

Mas como vimos, os tanques militares passaram por Brasília em direção ao município goiano de Formosa e o Brasil não acabou.

araujo-costa@uol.com.br

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