O ministro e a ética usada pelo avesso

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que preside alguns inquéritos contra o presidente da República, esteve reunido, em almoço, com os líderes da oposição Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara dos Deputados e Rodrigo Garcia, vice-governador de São Paulo, amigo e provável candidato de João Dória ao governo paulista em 2022.

A notícia é da CNN. Imagem mostra o ministro e seus interlocutores, recuados ao canto do estabelecimento, em conversa ao pé do ouvido e incompatível com o honroso cargo de ministro da corte suprema.

O competente advogado e jornalista paulista Caio Junqueira escancarou o encontro incomum e constrangedor.

O encontro deu-se em São Paulo, em dia útil – segunda, 09 de agosto – quando Sua Excelência deveria estar em Brasília trabalhando, embora seja um tanto petulante exigir que o ministro trabalhe, mesmo que paguemos seus salários e mordomias.

Dias antes, o mesmo altíssimo ministro Alexandre de Moraes, se reuniu em sua residência, em Brasília, com presidentes de partidos políticos, para pedir a rejeição da PEC do voto impresso, quando o assunto ainda estava sendo discutido na comissão especial da Câmara dos Deputados.

Aqui não se discute a sandice do presidente Bolsonaro ao defender o voto impresso, mas o contexto da reunião envolvendo o ministro do Supremo Tribunal Federal que, por lei e dever ético, há de ficar distante de assuntos partidários.

Algumas perguntas ingênuas, já que é cediço que perguntar não ofende:

O que o ministro do Supremo Tribunal Federal, que preside inquéritos contra o presidente da República e vai julgá-lo, tem para discutir, reservadamente, com membros da oposição ao governo?

O que o ministro do STF e do TSE tem de tão estratégico para se imiscuir em assuntos privativos do Poder Legislativo?

O próprio Supremo Tribunal Federal não defende, amiúde, a independência dos poderes da República?

Mais inexplicável e, por isto, grave, é que as eleições de 2022 serão presididas por Alexandre de Moraes, que assumirá a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, em rodízio regimental, razão maior para o ministro não descer à seara política e à promiscuidade partidária.

Este episódio confuso lembra o caso em que o então Procurador-Geral da República Rodrigo Janot foi visto às escondidas, atrás de grades de cerveja, num boteco de Brasília, em conversa reservada com o defensor dos magnatas donos da JBS.

Tempo depois, Rodrigo Janot estendeu tapete vermelho para tais magnatas e engendrou uma delação premiada generosa, que não previa punição para os empresários da JBS. Pior: o ministro Edson Fachin, do STF, homologou o documento.

Espera-se que, à semelhança do ex-juiz Sérgio Moro, o ministro Alexandre de Moraes não renuncie ao honroso cargo de ministro do STF, para ser ministro de eventual governo de oposição eleito em 2022.

Sua Excelência será mais útil no exercício da nobre função judicante.

Mas estamos diante da ética usada pelo avesso.

araujo-costa@uol.com.br

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