José Idney, leitor de origem nordestina, cobra-me um artigo que leu nalgum lugar em que falo de becos e cabras.
Confesso não me recordar, José Idney.
Minha memória esburacada tropeça aqui, ali e acolá, de modo que nem sempre encontro o que procuro em meio à bagunça de meus alfarrábios.
Mas presumo que o leitor se refere ao artigo que transcrevo a seguir, versando sobre o povoado de São José, município de Chorrochó, sertão da Bahia.
O texto foi generosamente publicado em 23/04/2013 pelo blog Chorrochoonline do não menos generoso Edimar Carvalho, rapaz de boa cepa, apaixonado pela área de comunicações e que deu certo ou vem dando certo em meu querido Chorrochó e região.
Já se vão, por aí, mais de oito anos da publicação.
Reproduzo o artigo, com algumas alterações indispensáveis exigidas pela passagem do tempo e esclareço o leitor que o texto fala da realidade da época, que hoje pode ser diferente e, portanto, pode estar desconforme os dias de agora.
Ei-lo:
“O povoado de São José cresceu – ou tentou crescer – com a ajuda possível de seus próprios recursos, advindos, unicamente, do trabalho suado do homem do campo.
Pequenos agricultores que viviam, como ainda hoje, da cultura de subsistência, plantando feijão, milho, abóbora, melancia e batata doce, para criar seus filhos, desesperançados em razão da pobreza do lugar.
A labuta era complementada com a criação de pequenos rebanhos de caprinos e ovinos, quase sempre dizimados pelas constantes secas.
Hoje São José tem, se tanto, aproximados quatrocentos habitantes, causticados pelo sol escaldante, porque o clima lá é cruel, quente, árido, extremamente difícil de enfrentar.
Comum entre seus becos empoeirados, mais do que pessoas, eram o caminhar das cabras e o tilintar de seus chocalhos, assim como porcos e galinhas.
Mas o povoado tinha um líder político que sempre lutou por sua gente: Boaventura Manoel dos Santos.
Vereador por diversos mandatos, com altivez e extrema dedicação, contou sempre com o apoio incondicional de seu povo, que o mantinha na Câmara Municipal de Chorrochó para ser sua voz, seu refúgio, sua retaguarda. E ele, no que pôde, cuidou de São José, diuturnamente.
Para isto, Boaventura teve a ajuda e solidariedade de outro líder político de Chorrochó: Dorotheu Pacheco de Menezes. Ambos viabilizaram a professora “formada”, como se dizia à época, Maria Dias Sobrinho, dando-lhe oportunidade para morar no povoado, ensinar, abrir o caminho para as crianças seguirem em direção ao futuro em busca de novos horizontes.
Maria Dias era uma criatura humilde, reflexiva, responsável. Deixou a semente para a juventude de hoje. E o exemplo de luta.
O Colégio Estadual Maria Dias Sobrinho, embora ainda funcione em condições precárias, dá aos jovens de São José esperança, estímulo para o prosseguimento da caminhada e, sobretudo, o fundamento para a construção do caráter, espinha que deve nortear a vida de todos nós.
Salvo melhor juízo, o Colégio hoje é uma extensão do Colégio Estadual São José, da sede.
Nenhum horizonte será possível se faltarem a persistência e a vontade de seguir avante.
Só a escola é o caminho certo.
Conheci Maria Dias Sobrinho, como eu, nascida na caatinga, ainda no início do exercício de sua profissão de mestra, enfrentando dificuldades de toda ordem, até mesmo para receber o salário.
Ainda assim, lutou, sofreu, ensinou, enfrentou a solidão do lugar.
Salvo engano, o Colégio foi fundado em 1981 e, após trancos e barrancos, autorizado a funcionar somente em 2005.
Todavia, pelas informações que me chegaram, ainda está às voltas com o descuido das autoridades. Faltam condições básicas para o exercício de suas atividades, falta apoio permanente ao seu corpo docente e aos alunos. Sobra omissão do Poder Público.
São José é um povoado de pessoas humildes, dignas, resistentes ao tempo e às intempéries.
É um conjunto de casas simples e rodeado pela vegetação da caatinga. Mas tem a semente para germinar o idealismo dos jovens: o Colégio Maria Dias Sobrinho”.
araujo-costa@uol.com.br
.