Quem luta com palavras sempre vive consultando alfarrábios e observando o dizer da vida.
O cronista às vezes se vê saudosista, outras tantas se basta na condição de curioso com as artimanhas do tempo.
Andei remexendo nalguns cartapácios e me deparei com anotações já amareladas pelo tempo noticiando o aniversário do Colégio Municipal Professor Ivo Braga, de Curaçá.
Já se vão, por aí, cinquenta e nove anos de existência do Colégio. O Ginásio Municipal de Curaçá foi fundado em 06 de agosto de 1962. Mais tarde evoluiu para Colégio Municipal Professor Ivo Braga.
Em 2012 realizaram-se as comemorações do cinquentenário da escola. O ponto mais alto, sem dúvida, foi a merecida homenagem prestada na ocasião ao seu fundador, Dr. José Gonçalves, ícone da história de Curaçá.
À época li o pronunciamento de Omar “Babá” Torres, aluno da primeira turma daquela instituição.
Discurso inteligente, essencialmente histórico e, sobretudo, fiel aos fatos. Babá fez um apanhado desde o nascedouro do Ivo Braga, citou o teólogo francês Jacques Bossuet (“no universo, poucas coisas são maiores que os grandes homens modestos”), o poeta português Fernando Pessoa (“eu sou do tamanho do que vejo”), o dramaturgo alemão Bertolt Brecht sobre os homens que lutam por toda a vida (“estes são imprescindíveis”) e por aí discorreu, competentemente, erguendo sabedoria, conduta, aliás, absolutamente compatível com o proceder de um filho de Durval Torres.
Sabem todos os que admiram Babá – aos quais me incluo – que ele tem o dom de expressar-se humildemente. E nunca é demais lembrar que a humildade é uma característica dos sábios.
A peça oratória de Babá nas comemorações do cinquentenário do Ivo Braga é mais que um discurso. É um templo da história de Curaçá. Deve figurar, doravante, nas bibliotecas e arquivos do Ivo Braga, para servir de parâmetro tanto para seus alunos e jovens de hoje quanto para as gerações futuras.
É um exemplo de como a persistência dos sonhos pode transformar uma sociedade e como “a abnegação, firmeza de ideal e capacidade de doação”, qualidades tão escassas no mundo de hoje, podem dignificar a história de um povo.
Imaginemos as condições adversas, políticas e práticas, enfrentadas pelo fundador do Ivo Braga como, em minúcias, Babá as enumerou em seu pronunciamento. Isto, numa época, quando tudo era difícil, inegavelmente mais difícil.
Somente um caráter de espinha inflexível como o de Dr. José Gonçalves sustentaria o esteio para segurar a firmeza do ideal que abraçou.
Curaçá seria outro, certamente com cultura mais tênue, se não houvesse o Colégio Ivo Braga. Nesses cinquenta e nove anos ele plantou sementes que germinaram abundantemente.
Muitos dos curaçaenses começaram ali sua história de vida. Embora ainda tropeçando nas pedras do meu caminho e empoeirado em razão das constantes quedas, também comecei no Ivo Braga a vislumbrar outros horizontes que me foram indicados por insignes mestres, a exemplo de Dr. Pompílio Possídio Coelho, Dr. Jaime Alves de Carvalho, Terezinha Conduru de Almeida, Lenir da Silva Possídio, Excelda Nascimento Santos, Noêmia de Almeida Lima, Maria Auxiliadora Lima Belfort, Dionária Ana Bim, Herval Francisco Félix e tantos outros.
Naquele tempo os alunos viam os professores como bons exemplos de vida a seguir e o colégio era o orgulho de todos que o frequentavam. Éramos assim, jovens e sonhadores.
Hoje, muitos de nós continuamos sonhadores, porque os sonhos balizam o prosseguimento da caminhada.
Quanto à juventude, ela nos serviu de sustentáculo para que fosse edificada a construção de nossa vida de hoje.
O Colégio Ivo Braga se permitiu, tenazmente, continuar perseguindo os sonhos do Dr. José Gonçalves e continua sendo o esteio que sustenta a cultura de Curaçá.
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