Os hipócritas da CPI do Senado

O rabo de palha do senador amazonense Omar Aziz ainda não pegou fogo porque no Amazonas tem muita água.

Presidente da CPI da Pandemia no Senado, Omar Aziz (PSD) arrasta nas costas uma tenebrosa investigação na Polícia Federal por desvio de dinheiro público da saúde, quando governador do Amazonas. 

Três pessoas da família de Omar Aziz, que ele omite, foram presas – e depois soltas – acusadas de participarem do esquema, mas ele escapou do xilindró, por enquanto, porque tem foro privilegiado, o famoso foro por prerrogativa de função. É senador, está acima de qualquer pessoa pobre, por isto, o Poder Judiciário lhe beneficia e o coloca no pedestal.

Alguém duvida que o Supremo Tribunal Federal vá declará-lo inocente?

Outro, que não pode passar perto do fogo é o honestíssimo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Este, petista enrustido, acima de qualquer suspeita e, como Lula da Silva, nascido no município pernambucano de Garanhuns.

O Núcleo de Jornalismo Investigativo da Record TV, tendo à frente o premiado repórter investigativo Tony Chastinet, descobriu algumas façanhas do espevitado senador do Amapá, no mínimo cabeludas, dentre elas, esta: ele recebeu do seu chefe de gabinete no Senado Federal, da mulher deste e do filho, expressiva quantia em dinheiro.

Rachadinha?

Não, que é isto?

O senador Randolfe Rodrigues é honesto. Ele vive condenando a prática de rachadinhas e, convenhamos, não está errado em condenar.

Mas seria Randolfe Rodrigues discípulo do colega senador Flávio Bolsonaro, acusado da prática de rachadinha?

Dentre as façanhas honestas de Randolfe Rodrigues está o fretamento de um avião por R$ 8,9 mil, pago pelo Senado Federal, sábado, 08 de maio de 2021.

A aeronave com capacidade para seis pessoas fez o trajeto ida e volta entre a capital Macapá (AP) e o município de Almeirim, no Pará.

Ocorre que, como se sabe, os senadores não trabalham de sexta a segunda, exceto em situações especialíssimas. E preguiçosos não trabalham, nem em situações especiais.

Logo, Sua Excelência Randolfe Rodrigues não estava a serviço, num sábado, para justificar o fretamento do avião para viagem tão longa com seis pessoas a bordo.

Turismo?

Que é isto? Randolfe Rodrigues é honesto.

Mais: Randolfe Rodrigues, que havia usado verba pública para pagar R$ 561 mil a uma produtora de filmes para fazer sua campanha ao Senado em 2018, agora contratou a mesma produtora para fazer propaganda de sua atuação política e, por esse serviço, pagou R$ 16,3 mil.

Agora em julho de 2021, Randolfe Rodrigues contratou uma empresa de pesquisa para avaliar sua atuação na CPI, por R$ 15 mil, ou seja, para saber como está sua imagem diante dos holofotes.

Quem pagou? O Senado Federal, evidentemente.

Não, não foi o Senado. Fomos nós, pagadores de impostos.

Todavia, tanto Omar Aziz quanto Randolfe Rodrigues são políticos honestos e cuidam bem do dinheiro público, assim como Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI.

Esses são os hipócritas da CPI, que parte de nossa sociedade e da grande imprensa os enaltecem.

Observação 1:

Para quem está lendo a palavra rachadinha pela primeira vez, explica-se como funciona: o político contrata um auxiliar, geralmente com salário alto. Ao receber o pagamento mensal, o auxiliar devolve parte do salário para o político/patrão. Isto é previamente combinado entre eles e há casos em que o contratado não trabalha, mas recebe o salário.

Como se trata de dinheiro público, a prática configura-se delito previsto nas leis penais. 

Observação 2:

A CPI do Senado é necessária e deve investigar e pedir a punição dos envolvidos em falcatruas, seja presidente da República, ministros, auxiliares, etc.

Mas a CPI deve ser composta de senadores de boa reputação, honestos, sem mácula, moralmente irrepreensíveis.

Não é o que se vê na CPI da Pandemia.   

araujo-costa@uol.com.br

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