“Os desenganos vão conosco à frente e as esperanças vão ficando atrás” (Celso Furtado, 1920-2004)
Em espalhafatosa entrevista à Rádio Metrópole, de Salvador, Lula da Silva desenterrou seu desejo de instituir a censura no Brasil.
A repercussão foi imediata e negativa para Lula, nacionalmente. Vista como sinal de censura à imprensa, a fala do ex-presidente não caiu bem.
A ideia é sustentada por Franklin Martins, ex-guerrilheiro comunista do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), de extrema-esquerda, que em ação armada com a Aliança Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighella, sequestrou o embaixador americano Charles Elbrick em 1969 e provocou um quiproquó danado na ditadura militar.
Exilado, Franklin Martins fez curso de guerrilha rural em Cuba e hoje integra a elite abastada da esquerda do Brasil. É um esquerdista que adora dinheiro público, mas esta é outra história.
Franklin Martins foi ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do segundo governo Lula entre 2007 e 2010 e agora cuida da comunicação da embrionária e possível candidatura presidencial de Lula em 2022.
Quando chefe de comunicação do governo Lula, Franklin Martins engendrou um projeto de regulação da imprensa, que não prosperou em razão de pressões contrárias de setores da sociedade.
Mais tarde, D. Dilma Rousseff, sabiamente, desestimulou a desastrada iniciativa do ex-guerrilheiro atabalhoado.
Como se vê, Lula não desistiu do projeto ou não querem que ele desista. O morubixaba petista quer implantar o modelo de Cuba, embora negue.
Em Cuba, que Lula da Silva e os petistas menos moderados se espelham, funciona assim: o Partido Comunista controla os sindicatos, as associações de bairro, as entidades profissionais e artísticas, inclusive teatros, assim como editoras de livros e toda forma de manifestação cultural.
Imprensa livre não existe em Cuba. A imprensa é monopolizada pelo Comitê Central do Partido Comunista e, portanto, a notícia é viciada e publicada de acordo com a vontade dos governantes da Ilha.
Cuba tem uma população de 11 milhões de pessoas. O Partido Comunista tem 700 mil filiados e forma, compulsoriamente, os Comitês de Defesa da Revolução. Esses comitês, são os “olhos e ouvidos da revolução”. Assim dizia o líder Fidel Castro, que foi amigo pessoal de Lula da Silva e seu mentor político.
Os Comitês de Defesa da Revolução vigiam intelectuais e população em geral. Eventuais protestos são punidos com a perda de emprego dos participantes e familiares e com o cancelamento dos restritos direitos civis que ainda restam por lá.
O jornalista Franklin Martins quer que a imprensa do Brasil se transforme numa extensão do Partido Comunista de Cuba e quintal de Lula da Silva e publique somente o que for de interesse dos petistas e de seus seguidores.
Lula da Silva foi claro na entrevista à Rádio Metrópole. Disse textualmente: “Estou conversando com muita gente, ouvindo muito desaforo, leio muito a imprensa e tem setores da imprensa que não querem que eu volte a ser candidato porque, se eu voltar, vou regular os meios de comunicação desse país”.
Daí, não é exagero concluir que, se a imprensa estiver de acordo com ele e apoiar sua candidatura, não será necessária a regulação.
Ato falho ou sincericídio, o fato é que Lula escorregou politicamente.
Lula de quando em vez dá uma recaída em seu viés autoritário.
É conhecido o episódio de 2004, quando Lula exigiu a expulsão do jornalista americano Larry Rohter, do The New York Times, porque o profissional publicou uma matéria naquele jornal dizendo que o então presidente tem preferência por bebidas alcóolicas, ou seja, gosta de umas canjibrinas, o que passa longe de ser inverdade.
Ao ler a matéria, Lula deu murros na mesa, exigiu a expulsão do jornalista, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu um salvo-conduto para que o profissional americano permanecesse no Brasil e a turma do “deixa disso” convenceu Lula a abandonar a ideia de expulsão.
O advogado e ministro da Justiça de Lula, Márcio Thomaz Bastos, teve papel fundamental para debelar a crise de estrelismo do então presidente da República.
Contudo, a rigor, Lula não tem pinta de ditador, não tem jeito de ditador. De vez em quando ele pensa que é Deus, mas depois passa.
Lula gosta mesmo é de lorotas e embromação, sua especialidade. É um sujeito divertido, apaixonado pelo poder.
O estorvo que acompanha Lula é a presença dos radicais do PT ao seu redor, os monstros que ele criou e foram responsáveis pelos seus tropeços morais à frente do governo da República.
Mas Lula não vive sem eles.
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