Patamuté, Antonio Paixão e seu tempo

Antônio Ferreira Dantas Paixão/foto álbum de Josias Paixão

“Digo a verdade não tanto quanto sei, mas tanto quanto ouso. E ouso mais à medida que envelheço” (Michael de Montaigne, 1533-1592)

Recolho parte de fragmentos de minha memória esburacada pelo tempo e ouso dizer algumas coisas, embora à semelhança de Montaigne, essas coisas tenham muito de ousadia.

Recolho informações de meus amarelados papéis de arquivo, já conhecidas de todos, de modo que não há novidade nisto que escrevo hoje, mas o cronista às vezes se perde e se acha e se enrola no próprio tempo, eleva-se pretensiosamente à condição de memorialista e, quase sempre, acaba colocando os burros n’água.

Quiçá este seja o meu caso que, reconheço, quase sempre meto o bedelho onde não fui chamado.

Em minha trajetória de vida fui ajudado por algumas pessoas que me são caras até hoje, mesmo que já se tenham ido para a eternidade “antes do combinado”, como diz o caipira paulista.  

Prolegômenos à parte, vou aos fatos. Importam aqui os fatos e não o achismo do escrevinhador.

Década de 1960. Em Patamuté, sertão baiano de Curaçá, Antonio Ferreira Dantas Paixão (1899-1976) e sua esposa Rachel do Carmo Paixão (que me chamava “meu filho”, honra que carrego até hoje) muito me ajudaram no princípio de minha caminhada rumo ao desconhecido.

Sob os auspícios de ambos, que condição eu não tinha, foi-me possível frequentar o curso primário na Escola Estadual de Patamuté, então pertencente ao Departamento de Educação Primária, da Secretaria de Educação da Bahia.

A ordem natural na época, para quem podia estudar fora de Patamuté – e eu não podia –  era alcançar o ginásio e depois o curso clássico ou científico.

O prédio da escola ainda está lá, salvo engano, em ruínas, recusando-se ao desmoronamento completo e ao abandono da história, graças ao descaso de nossas competentes autoridades do estado e do município de Curaçá que o ignoram.

Há quem pondere que o prédio escolar de Patamuté é de responsabilidade do Estado da Bahia e não do município de Curaçá. Este argumento não exclui o dever de zelar por ele, já que o prefeito, qualquer que seja ele e seu partido político, tem atribuições para reivindicar do governo estadual tudo que se faça necessário à população.

Ou, então, se o prefeito do município não souber disto, é caso de pegar o boné e escafeder-se em direção ao ostracismo.

Considerando o estado de abandono do prédio escolar de Patamuté, parece razoável entender que o prefeito de Curaçá não conhece bem o alcance de suas atribuições. Possivelmente o prefeito está confundindo política com politicalha.

Em ciência política e na estrutura de direito do estado, há outras figuras importantes no município: os vereadores, por exemplo. Patamuté está precisando de vereadores. Carece de vereadores. Se os tem, precisam ser cobrados, já que não atuam a contento.

Autoridades eleitas pelo povo que não operam em benefício da população devem ser ignoradas e, na primeira oportunidade, substituídas por outras, nas urnas.

Política é arte, nem todos sabem exercê-la. Mas deixa pra lá.

Volto-me à memória de Antonio Ferreira Dantas Paixão, comerciante e político de Patamuté, que é mais importante neste espaço.

Empreendedor de visão, Antonio Paixão exercia o comércio em Patamuté e instalou uma fábrica de beneficiamento de sisal e caroá na Fazenda Bom Jardim. Lá fundou escola e nomeou professora com destaque para Graziela Ferreira da Silva, baluarte do ensino na localidade e circunvizinhanças.    

Antonio Paixão foi vereador de Curaçá em dois mandatos e chegou a arriscar-se na disputa ao cargo de prefeito do município contra o impoluto Gilberto da Silveira Bahia, que ganhou a eleição e governou no período de 1959-1963.  

Gilberto Bahia capitaneou orgulho e admiração dos curaçaenses e seu legado estende-se até os dias de hoje. Sua linhagem herdou a decência política e o amor a Curaçá.

Homem de caráter irrepreensível e reputação ilibada, Antonio Paixão tinha bons relacionamentos com respeitáveis homens públicos.

Em Curaçá, por exemplo, Antonio Paixão foi aliado de Euvaldo Torres de Aquino e Jayme da Silveira Coelho. Em âmbito estadual, Francisco Waldir Pires de Souza e Oliveira Brito, ícones da decência política na Bahia.

Termino este artigo como comecei. Citando Montaigne: “Digo a verdade não tanto quanto sei, mas tanto quanto ouso. E ouso mais à medida que envelheço”.

araujo-costa@uol.com.br     

Uma consideração sobre “Patamuté, Antonio Paixão e seu tempo”

Deixe um comentário