“Bafejado pelo êxito qualquer homem se imagina predestinado a grandes missões. Se é um medíocre, não tardará a cair, mas se estiver à altura da oportunidade, a vitória lhe proporcionará energias imprevistas” (Luís Viana Filho, 1908-1990, historiador, ex-governador da Bahia)
Alfredo Sirkis (1950-2020), jornalista e escritor, esquerdista carioca de relevante atuação política na ditadura militar, conta em seu livro Os carbonários (Global Editora, 1980) um episódio que aconteceu quando regressou ao Brasil.
De volta do exílio, ao desembarcar no aeroporto do Rio de Janeiro, o policial que o atendeu, antes treinado pela ditadura para perseguir e torturar militantes de esquerda, ao analisar seu passaporte e sua condição de anistiado, disse-lhe ironicamente:
– “Agora que tu vais ficar complexado, né rapaz? Não damos mais bola pra ti”.
Quando o Brasil mostrar aos torcedores do caos, que o 7 de setembro de 2021 será apenas mais uma data cívica no calendário, ministros do Supremo Tribunal Federal, que gostam de holofotes, vão ficar complexados ao se darem conta de que os brasileiros exigem deles trabalho e não militância política.
Ministros do Supremo Tribunal Federal ganham estratosféricos salários e mordomias inalcançáveis pelo cidadão comum, pagos pelos brasileiros, para trabalhar e não para fazer política.
Só para dar um exemplo: em 2016, segundo dados do próprio STF, cada um dos 11 ministros do Supremo tinha uma média de 222 assessores.
Rapadura doce, não é?
Quem quer fazer política não deve usar toga. Deve habilitar-se nas urnas e usar a tribuna democrática, que é o lugar próprio para arroubos, defesa de ideias e campo para a luta em benefício da sociedade.
Entretanto, o que se pode esperar de ministros do STF que nunca foram magistrados e sequer redigiram uma sentença na vida e estão no topo do Judiciário por serem amigos do rei de plantão que os indicou?
O Brasil precisa prosseguir em sua caminhada, em paz, independentemente da arrogância de alguns poderosos que se elevam acima dos ombros dos demais brasileiros.
Uma das aulas mais memoráveis que tive – e guardei a lição – foi na condição de ginasiano no querido Colégio Municipal Professor Ivo Braga, de meu belo município baiano de Curaçá.
Dr. Pompílio Possídio Coelho, médico, exemplo de caráter irrepreensível, ex-prefeito do município no período 1967-1971, então professor de Português do Colégio, em aula memorável, transformou em prosa os versos do Hino Nacional.
Foi lá que aprendi, de verdade, que “as margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um pouco heroico”.
Continuemos sendo heroicos, apesar do rei e da barriga do rei. E de alguns ministros do Supremo Tribunal Federal.
Não devemos dar bola para gestos extremados, mesmo que venham de lugares de onde se espera a moderação.
Que fiquem complexados os que apostam no caos.
Algum rei, nalgum lugar, pode estar grávido de arrogância. Não é bom, nunca será bom.
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