A festa macabra da CPI da Pandemia

Em sã consciência, ninguém pode ser contra a punição do presidente da República, ministros, agentes do ministério da Saúde, empresários e eventuais corruptos de toda ordem, se provada a prática de crimes.

Em sã consciência, ninguém pode ser contra investigações, quaisquer que sejam elas, inclusive da CPI da Pandemia, com vista ao estancamento do uso indevido do dinheiro público, omissões e negligência e, em consequência, punição dos culpados.

Entretanto, há duas premissas verdadeiramente incontestáveis: corruptos não podem investigar corruptos e a CPI não pode ser usada como palanque político-eleitoral para seus membros, como vem acontecendo no Senado Federal, acintosamente.

Mais do que isto: a CPI está se utilizando da dor de milhares de famílias que perderam entes queridos,em razão da covid-19, para promover alguns de seus membros.

Noticia-se que a CPI, através de seus excelentíssimos rabos-de-palha Omar Aziz (PSD-AM), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Renan Calheiros (MDB-AL) está preparando uma festa apoteótica para encerrar os trabalhos da comissão.

Noticia-se, ademais, que a festa será realizada num dos auditórios do Senado Federal para reunir o maior número possível de pessoas e para ela já estão sendo convidadas até figuras globais.

A tônica da festa será o endeusamento de membros da CPI, evidentemente.

O jornalismo do Grupo Globo está fomentando a festa macabra através da exposição diária e permanente dos membros da CPI, com predileção para os três senadores citados, linha de frente da comissão.

Os comentaristas globais Gerson Camarotti, Natuza Nery e Eliane Cantanhêde, dentre outros, estão pateticamente se engasgando com as próprias palavras, todos os dias,no sentido de manter em evidência os senadores-estrelas da CPI da Pandemia.

A sensatez dos comentaristas globais fica por conta de Fernando Gabeira. O sofrimento do exílio lhe acrescentou experiência e profissionalismo para fazer jornalismo e saber o que diz e como diz.

O senador baiano Otto Alencar (PSD-BA), que está se cacifando para ser candidato a governador da Bahia ou, no mínimo, continuar em evidência política, é um dos que mais se esforça para aparecer diante dos holofotes.

Otto Alencar, à semelhança dos protozoários, que ele tanto gosta, vive pendurado nos cofres da Bahia há décadas e se alimentando de dinheiro público.

De qualquer modo, é estarrecedor que senadores se valham da dor de milhares de famílias para promoção pessoal, com vistas às próximas eleições em seus respectivos estados.

Estarrecedor, mais ainda, é parte da sociedade acreditar na seriedade desses senadores.

Falta-nos a todos nós um quê de discernimento.

Desgraçadamente nos falta educação e cultura política para abrir nossos olhos em direção à realidade e enxergar os embusteiros e embromadores que gravitam em torno do poder, em todos os níveis.

Ainda há tempo de, num lampejo sensato, a CPI desistir da festa e respeitar a dor de milhares de brasileiros.

Com políticos como esses, que Deus tenha piedade de todos nós.

Post scriptum:

587.138 mortos pela covid-19 até 13/09/2021, segundo o consórcio de veículos de imprensa.

araujo-costa@uol.com.br

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