Há tempo, acho que no prefácio que me foi generosamente pedido num livro ou em crônica dispersa, citei uma frase do dramaturgo irlandês Oscar Wilde (1854-1900): “Toda arte é absolutamente inútil. A única desculpa para se fazer uma coisa inútil é admirá-la imensamente”.
Um leitor atento, certamente amante da arte, pergunta-me onde foi que Oscar Wilde disse isto. Parece que ele não acreditou muito ou em nada do que escrevi e, por óbvio, não é minha intenção que acredite.
Explico. A frase está no romance filosófico O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, publicado na Inglaterra em 1890. Mas a frase não deve ser interpretada isoladamente.
Sempre há um contexto para tudo, até mesmo para nossas ações e para o que dizemos. Em nenhum momento eu disse ou quis dizer que a arte é inútil por si só, nem que a citação de Oscar Wilde é estanque em si mesma.
A vida tem um quê de aventura.
Desde a tenra idade, passando pela mocidade, até chegar à senectude, todos experimentam momentos de alegria, felicidade e tristeza.
Uns se embevecem tanto nessa aventura que se tornam eternos espectadores dos outros, alheios à cruel realidade que passa.
Outros, mais cônscios, se entregam às vicissitudes da vida e parecem cada vez mais preocupados com tempo e objetivos.
Nessa inarredável aventura, algumas vezes caímos, noutras tropeçamos, mas quase sempre adquirimos forças para seguir avante em busca dos sonhos e de novos horizontes.
O importante, nisso tudo, é saber sacudir a poeira depois da queda. E seguir em frente.
Construímos amizades que perduram até o entardecer outonal da vida e convivemos com outras que não tiveram tenacidade para enfrentar a realidade da convivência, porque ser amigo é muito difícil.
E no fim da caminhada, poucos sobram ao nosso lado. É o parâmetro que o viver nos dá para que possamos aquilatar o valor de quem nos rodeia, a peneira da experiência que vai escoando as futilidades.
Nesse caminhar a vida vai passando. Ou o vento da aventura vai soprando.
Existe uma constante presença entre a juventude e os dias de hoje: a lembrança. É ela que impulsiona o prosseguimento da caminhada.
A ingenuidade da adolescência, a pureza da juventude, a edificação dos sonhos e, sobretudo, a vontade de ser feliz são, também, formas eficientes para levar adiante o caminhar.
E muitos alcançam seus objetivos. Outros, diversamente, não conseguem porque a distância entre o sonho e a realidade torna-se infinitamente elástica para eles.
Uns persistem, outros fracassam. Mas o vento da aventura sopra sobre todos.
A vida também é arte. Mas não é inútil.
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