Em seu livro Vila Nova da Rainha Doida, o escritor e jornalista Guido Guerra, baiano de Santaluz, que o amigo Jorge Amado o apelidou de Papagaio Devasso, em recurso de admirável inteligência, conta a história de um certo coronel Asclepíades, truculento e mandão, senhor e dono de tudo em sua região.
Como regra, as celebrações religiosas católicas eram feitas em língua nacional. Asclepíades determinou ao vigário local que celebrasse uma cerimônia em latim, à moda antiga.
O padre argumentou:
– “O Vaticano determinou que agora seja em Português”.
– “Aqui mando eu, só eu”, disse o coronel Asclepíades.
A vaidade existente nas entranhas dos partidos de esquerda e parte da direita estrambólica e dissidente não permitiu que levassem às ruas um número considerável de opositores ao governo Bolsonaro nas manifestações convocadas para 02/10/2021.
Único presidenciável declarado presente na Avenida Paulista, o “coronel” e ex-governador cearense Ciro Gomes foi retumbantemente vaiado pela esquerda que ele tanto admira, inclusive por petistas exaltados que, como ele, fizeram parte do governo de Lula.
Ao fim de sua fala, patética e repetitiva, Ciro Gomes, que não leva desaforo para casa, deu o troco e chamou os petistas e esquerdistas em geral de “fascistas de vermelho”.
Ao deixar a manifestação, Ciro Gomes foi cercado e quase leva uma surra dos petistas, mas a turma do “deixa disso” e a Polícia Militar de São Paulo impediram a sova.
O Partido Democrático Trabalhista (PDT), de Ciro Gomes, diz que não foi bem assim e tenta evitar o visível desgaste.
O PDT tem à frente a conhecida e abominável figura do trabalhismo nacional, Carlos Lupi, ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff.
Como se vê, Ciro Gomes não está bem acompanhado.
À semelhança do coronel Asclepíades, de Guido Guerra, Ciro Gomes se acha o máximo e, sozinho, tentou enfrentar a “estrondosa multidão” de 8 mil pessoas que a esquerda conseguiu levar à Avenida Paulista, segundo dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
Ou seja, enquanto a vaidade dominar a esquerda, fica difícil ela reunir multidões contra o presidente Bolsonaro. Cada segmento da esquerda quer assumir o poder. Melhor: quer devastar os cofres públicos ou participar da devastação.
O principal protagonista da esquerda, Lula da Silva não tem ido a essas manifestações, por duas razões: experiente e politicamente inteligente, Lula sabe que nesses ambientes podem surgir vaias e isto ele não quer, o fragiliza; depois, porque Lula prefere fazer campanha de bastidores, articulando alianças nos estados e com lideranças de todos os espectros, o que vem fazendo com grande desenvoltura e êxito comprovado.
Em resumo: Lula não quer assumir que está fazendo campanha antecipada à semelhança de Bolsonaro. Mas o PT está em campanha. Inegável que está.
O comentarista Gerson Camarotti, da Globo News, em hercúleo contorcionismo verbal, tentou omitir o nome de Ciro Gomes, como destinatário das vaias da Avenida Paulista.
Entretanto, a emissora concorrente mostrava um cabisbaixo Ciro Gomes, em palanque, sendo estrondosamente vaiado pela perdida esquerda, que deveria apoiá-lo ou, pelo menos, ser educada e comportada.
Esperemos as próximas manifestações.
Quem sabe os opositores do presidente Bolsonaro se unam em prol do mesmo objetivo: derrubá-lo nas urnas de 2022.
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