Em Chorrochó, crime, estupidez e desamparo.

Qualquer crime por si só é estúpido. E traz desamparo.

O crime organizado explodiu a agência bancária da cidade de Chorrochó, sertão da Bahia, na noite de 04/10/2021.

Imagens que estão circulando nas redes sociais são impressionantes e desoladoras.

A ação dos bandidos fez reféns e – parece – chegou a danificar imóveis residenciais vizinhos ao banco.

Beirando um século, em 22/12/1929, o bando do cangaceiro Lampião invadiu e barbarizou Queimadas, na região de Canudos.

Lampião assassinou friamente sete soldados, todos do destacamento local, extorquiu moradores, prendeu o juiz e todos os serventuários da Justiça e dominou violentamente a localidade durante horas.  

A história vem se repetindo, desta vez com deslindes cruéis e em proporções mais sofisticadas. Os delinquentes estão se modernizando.

Hoje, os órgãos policiais denominam de “novo cangaço” essas quadrilhas fortemente armadas que invadem cidades, explodem agências bancárias, tomam pessoas como reféns, espalham medo generalizado e roubam violentamente.

Isto vem acontecendo até em grandes cidades, como foi o recente caso acontecido na bem estruturada Araçatuba, interior de São Paulo.

Decorrido quase um século do episódio de Lampião, as populações continuam desprotegidas e à mercê de bandidos, não propriamente por negligência dos governos estaduais, que cuidam da segurança pública, mas em razão do crescimento desenfreado do banditismo e sua forma de agir, mormente nos grandes centros urbanos.

O banditismo está migrando para as pequenas cidades, mais vulneráveis e menos seguras.

Entretanto, convém ponderar que os governos pouco têm investido em segurança pública ao longo dos anos.

Os efetivos policiais são diminutos sobretudo nas pequenas cidades e o policiamento não dispõe de efetivo e equipamentos suficientes para enfrentar o crime organizado que está à frente da sucateada estrutura militar.

O crime organizado importa armas modernas, com alto poder de destruição, que passam por nossas fronteiras facilmente, por conivência de agentes públicos corruptos ou em razão de sofisticadas estratégias dos meliantes ainda não detectadas pelos órgãos de segurança.

A ousadia e preparo logístico dos bandidos são tantos que até aeronaves são usadas por eles para o cometimento de crimes.

Helicópteros resgatam ou tentam resgatar presos em presídios, aviões transportam drogas e armas, chefes de organizações criminosas se deleitam com iates, mansões, aeronaves, etc.

Para ilustrar o desamparo da população, há o caso do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) que mandou soltar um traficante de cocaína de alta periculosidade e, como se sabe, mola do crime organizado.

Ao mandar soltar o traficante, o “cuidadoso” ministro do STF ainda determinou pomposa e inocentemente: “Advirtam-no da necessidade de permanecer em residência indicada ao Juízo, atendendo aos chamados judiciais, de informar possível transferência e de adotar a postura que se aguarda do cidadão integrado à sociedade”.   

O traficante, com razão, colocou o Habeas Corpus concedido pelo STF debaixo do braço e foi comandar o tráfico por aí. Tudo isto reflete nesses crimes de explosões de agências bancárias que financiam esses criminosos.

Portanto, é seguro afirmar que, em muitos casos, os bandidos superam, em muito, a capacidade de armamento em relação às forças policiais estaduais.  

A estupidez que o crime provoca, em situação assim, resvala em prejuízo da população, que fica desprovida da estrutura da agência bancária, a exemplo de Chorrochó.

Idosos, doentes, pessoas de baixa renda e população em geral que dependem do banco, inclusive para receber salários, precisam se deslocar, com dificuldade, principalmente financeira, a municípios vizinhos, para receber aposentadorias e outras demandas que hoje são centralizadas nos bancos.     

Se os bilhões do fundo eleitoral destinados aos políticos fossem canalizados para a segurança pública dos estados, certamente se criariam meios pelos quais a população se sentiria mais segura.

A democracia não precisa enriquecer uns poucos e dizimar a sobrevivência de muitos.

araujo-costa@uol.com.br   

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