“Pedro Caroço, filho de Zé Vagamela, passa o dia na esquina, fazendo aceno pra ela” (Genival Lacerda, 1931-2021, paraibano de Campina Grande, in Severina Xique Xique)
O Centrão aboletou-se na butique do presidente Bolsonaro ou, melhor dizendo, agarrou-se aos cofres públicos nacionais, qual carrapato sugando o que ainda resta de seu sustentáculo alimentar.
O Centrão é um carrapato político vergonhoso. Não se sustenta em ideias, mas em dinheiro público.
Como se sabe, o que se convencionou chamar de Centrão é um grupo de políticos inescrupulosos, formado basicamente de parlamentares fisiologistas, corruptos muitos deles, que disputam regularmente as eleições em seus estados, com o intuito de abarrotarem seus bolsos de dinheiro público.
Lula da Silva, que conhece as entranhas do Centrão desde sempre – o grupo participou de todos os governos petistas – passa o dia nas esquinas políticas acenando pra ele, de olho nas urnas de 2022 e na butique valiosa do dinheiro público.
Lula viu o Centrão nascer no Congresso Nacional. Sabe tudo de Centrão, desde a Constituinte de 1987-1988.
Na Bahia, por exemplo, Lula está à vontade. O Partido Progressista(PP), núcleo do Centrão, está com Lula, como sempre esteve. É uma mistura entre petistas e progressistas, todos se engalfinhando silenciosamente com o intuito de continuarem mamando nas tetas do governo da Bahia.
Experiente, Lula sabe que essa mistura confusa lhe faz bem e que o peso do voto na urna é o mesmo, tanto faz se do eleitor paupérrimo dos distantes rincões do Nordeste, do eleitor do elegante Jardim Europa, em São Paulo ou do eleitor do Corredor da Vitória, em Salvador.
O vice-governador da Bahia, João Leão (PP), disse que “o PP está com Lula em qualquer posição”. Só não disse qual a posição mais confortável ou se isto não faz diferença.
O vice-governador baiano foi prefeito de Lauro de Freitas e deputado federal por cinco mandatos. Entende tudo da arte de encostar nos cofres públicos.
Raposa política, para não melindrar os progressistas da Bahia que apoiam Bolsonaro, em recente entrevista à rádio A Tarde, de Salvador, Lula disse: “Estou vendo agora Bolsonaro dizer que vai dar um auxílio emergencial de R$ 400,00 que vai durar até o final do ano que vem e tem gente dizendo que não pode aceitar, porque é um auxílio eleitoral. Não, eu não penso assim”.
Vislumbrando as urnas de 2022, Lula sabe que, se for contra o auxílio emergencial de R$ 400,00, mesmo que insuficiente, fica mal com o eleitorado que necessita do auxílio, única renda de milhões de brasileiros.
Em última análise, se contra, Lula estaria criticando o próprio Bolsa-Família, que é o sustentáculo do PT no Nordeste e razão de sua superioridade eleitoral em todos os estados da região.
No frigir dos ovos, se ainda restarem ovos nesta crise política e pandêmica, o Centrão ficará com quem lhe oferecer mais, Lula da Silva ou Bolsonaro.
Quando não interessa mais a posição que ocupa, o Centrão muda de lado, acintosamente. E começa tudo de novo, independentemente de quem esteja no poder.
O Centrão não gosta do Brasil.
O escritor e diplomata sergipano Gilberto Amado (1887-1969) disse uma frase lapidar, que vale até hoje: “Quem não gosta do Brasil não me interessa”.
Essa frase vale como reflexão na hora de votar.
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