Na Bahia, Ângelo Coronel aguarda o palanque

Um Estado que tem Ângelo Coronel e Otto Alencar como representantes no Senado da República só pode estar politicamente de joelhos.  

O consolo é que devemos respeitar e reverenciar a vontade soberana das urnas. Sempre.

Assim como os demais estados, a Bahia é representada por três senadores. O outro é o petista Jaques Wagner, que sabe tudo de esperteza política.

Sindicalista, Jaques Wagner deve ter aprendido tudo de velhacaria nas greves dos petroquímicos de Camaçari e nos efervescentes gabinetes sindicais, que também foram eficientes escolas de Lula da Silva.

Os sindicatos sempre foram bons negociadores. Por isto, Lula soube negociar tão bem as maracutaias que implantou nos governos petistas. Assim como Lula, Jaques Wagner é exímio negociador.

Em ano eleitoral – 2022 – outra comissão parlamentar de inquérito vai frequentar as páginas da imprensa. Desta vez é a CPMI (mista, deputados e senadores) das Fake News.

O presidente da próxima CPMI-Palanque, que já está instalada há algum tempo, é o senador Ângelo Coronel (PSD-BA).

Ângelo Coronel é aquele mesmo senador acusado de ter sido agraciado com polpudo valor proveniente do tão criticado orçamento secreto de R$ 40 milhões em emendas, que o governo Bolsonaro instituiu – ou manteve o que já tinha sido instituído – para adoçar a boca de parlamentares vendáveis e dar sustentação à base governista no Congresso Nacional.

Ângelo Coronel é aquele mesmo senador que, em delação premiada homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), a desembargadora Sandra Inês, afastada do Tribunal de Justiça da Bahia, em razão da prática de supostos crimes no exercício da função pública, cravou a seguinte informação: Ângelo Coronel, enquanto era deputado estadual pela Bahia, teria coagido produtores rurais, e que na época “comentou-se abertamente no TJ-BA que ele tinha recebido uma aeronave como pagamento pela sua atuação”. (TV Bahia e G1 Bahia, 14/10/2021).

Ângelo Coronel já negou que tenha recebido um avião de presente e disse que vai processar a desembargadora. Então, vamos acreditar em Sua Excelência. É o bastante.

Ângelo Coronel quadruplicou seu patrimônio entre 2014 e 2018. Passou de R$ 1,5 milhão para 5,6 milhões. Em 2018 sua mansão no bairro de Stela Mares, em Salvador, estava avaliada em valor superior a R$ 4 milhões.

A aeronave não consta da lista dos bens do senador, mas sabe-se que ele tem uma empresa área de nome Jet Gold Serviços Aéreos e que se desloca em um avião particular abastecido com dinheiro público da quota parlamentar.

Como se vê, o senador baiano de Coração de Maria adora uma rapadura doce.

Imagino como se comportará a hipocrisia na CPMI das Fake News. Ângelo Coronel certamente será pressionado a pedir o indiciamento do presidente da República, ao mesmo tempo em que se beneficia de emenda parlamentar proveniente do chamado orçamento secreto.

O orçamento secreto teria sido estimulado por Bolsonaro para amaciar a opinião e o voto de parlamentares em matérias de interesse do governo federal.

Lula da Silva e o PT instituíram o mensalão. A oposição diz que Bolsonaro criou o Tratoraço.

A diferença entre um e outro é que Lula pagava os parlamentares por mês (mensalão) e Bolsonaro paga de uma só vez (emenda-tratoraço). Ou Lula é cauteloso com seus “credores” ou Bolsonaro é bom pagador.

Entretanto, com dinheiro público, não faz nenhuma diferença. Ambos escorregaram na lama.

Como se diz lá nas montanhas de Minas, “bancam o Tiradentes com o pescoço dos outros”.

A relatora da CPMI é a outrora combativa deputada Lídice da Mata, também do PSD da Bahia, que já sinalizou o caminho que a comissão vai seguir: o palanque político-eleitoral.

Como se vê, a Bahia está desmilinguindo seu caráter político.

Terminada a CPI da Pandemia, sai o opaco senador Otto Alencar, mas permanece outro na CPMI das Fake News, o não menos opaco senador Ângelo Coronel.

Jaques Wagner, político esperto, ficou de fora de ambas comissões, para ter tempo de comandar a degenerescência política e eleitoral na Bahia. Fará com êxito. 75% dos baianos apoiam o PT.

Com um peso desses (75%), dificilmente a Bahia não será afundada. Basta ver os índices educacionais e da pobreza na Bahia.

Como é de se supor, o fim da CPMI das Fake News será igual ao da CPI da Pandemia: rotos falando de esfarrapados.

E milhões de brasileiros acreditando na seriedade dos membros da CPI.

Democracia é assim. Vamos em frente. Sempre com a democracia.

araujo-costa@uol.com.br

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