Há algum tempo vi numa rede social citação ao Bar de Nonon, em Chorrochó. A referência dizia que é “um dos melhores lugares de Chorrochó”, segundo registrava o jovem e conspícuo advogado Luiz Alberto de Menezes Filho (Betinho).
A última vez que estive em Chorrochó, passados quinze anos, o Bar de Nonon ocupava o mesmo espaço do histórico Bar Potiguar. Não sei se ainda está lá ou se mudou de lugar.
O advogado Betinho vem a ser neto de Francisco Arnóbio de Menezes, honra e glória de Chorrochó, um dos mais assíduos frequentadores do desaparecido Bar Potiguar.
Nonon, que é um senhor de respeito, deve ter mantido a urbanidade, a tradição e o bom atendimento que os clientes do Bar Potiguar recebiam.
Modéstia à parte, fui garçom do Potiguar. Garçom não é bem a palavra certa. Eu era um faz-de-conta que exercia o papel de garçom e me dou à jactância e ao vaidoso esmero de dizer que não era um garçom tão ruim assim e até metido a besta.
Neste meu caso, a modéstia dá lugar à vaidade. Guardo um pouco de orgulho de ter sido garçom do Bar Potiguar e de ter construído muitas amizades nascidas ao entorno de seu balcão.
Hoje, acabrunhado pelas dores e atribulações da vida, a memória me leva à juventude, aos melhores anos, à usança do tempo, às conversas de botequim em Chorrochó.
Toda cidade, seja metrópole ou do interior, tem o seu ponto de encontro.
São famosos, em todas as cidades, os bares frequentados por artistas, jornalistas, políticos, advogados, intelectuais, escritores e gente que a fama não alcançou. Conheço alguns, vários.
Chorrochó, minúscula cidade do sertão baiano, também tinha o seu mais famoso ponto de encontro: o Bar Potiguar. Central, arejado, convidativo, respeitado.
Na segunda metade da década de 1960 lá despontou – e durou por muito tempo – uma espécie de sociedade irrequieta, formada de jovens, geralmente estudantes do então Colégio Normal São José, que fazia uma cidade alegre e hospitaleira.
Esses jovens, a maioria proveniente da zona rural, construíram, dentro de seus limites interioranos possíveis, um mundo entrelaçado de fantasia e realidade.
O Bar Potiguar, hoje desaparecido, era o ponto de encontro desses jovens, ávidos por atingir seus sonhos e propensos, todos eles, a trilharem o caminho do futuro em busca dos seus ideais.
O Bar Potiguar também era uma espécie de universidade de costumes. Foi lá que conheci os três homens mais valentes e inflexíveis de caráter, até hoje: Eloy Pacheco de Menezes, José Pires Filho (Ioiô) e José Eudes de Menezes (Iê).
De lá saía o conhaque para o Dr. Olinto Lopes Galvão Filho, primeiro juiz da comarca de Chorrochó e lá frequentou, mais tarde, outro juiz da comarca, Dr. Benedito José Carvalhal de Souza.
A boemia se tornou uma sadia forma de agregação de amizades que perduraram.
Muitas dessas pessoas hoje são profissionais, preocupadas com tempo e objetivo, mas inarredavelmente ligadas àquele passado de ternura e convivência responsável.
Sobressaíam-se, naquele tempo, nesse ambiente de amizade e cordialidade, uns mais jovens, outros mais experientes, como assíduos frequentadores do bar Potiguar: Juracy Santana, Antonio Euvaldo Pacheco de Menezes, Francisco Ribeiro da Silva, José Osório de Menezes, João Bosco de Menezes, Neusa Maria Rios Menezes, José Juvenal de Araújo, Antonio Wilson de Menezes, Geraldo José de Menezes, Maria Lenisse Oliveira Alves de Santana, Almira Marques Ribeiro, Eremita Marques Ribeiro, Antonia Marques Ribeiro, Marinalva Araujo, Raimunda Ribeiro Coelho, Ângela Maria Silva, Carlos Bispo Damasceno, Fabrício Félix dos Santos, Ernani do Amaral Menezes, José Eudes de Menezes, José Claudionor Menezes, Francisco Lamartine de Menezes, José Evaldo de Menezes, Francisco Afonso de Menezes, José Jazon de Menezes, Antonio Cordeiro de Menezes (Tutu), Antonio Geraldo Rodrigues de Menezes, José Claudio de Menezes (Dedé de Juca) e tantos outros, alguns já falecidos, mas inesquecíveis.
A lista é extensa, mas limito-me a alguns nomes para evitar um massacre maior da saudade, pedindo vênia pela omissão dos demais.
E havia, de quando em vez, a frequência dos mais velhos, que nos deixavam mais seguros e nos amparavam em nossas fragilidades de jovens inexperientes: Eloy Pacheco de Menezes, Horácio Pacheco de Menezes, José Calazans Bezerra, Luiz Pacheco de Menezes, Francisco Arnóbio de Menezes, José Pires Filho, Joviniano Cordeiro de Menezes e etc.
Surgiam presenças fortuitas e rápidas, a exemplo de Dorotheu Pacheco de Menezes.
Virgílio Ribeiro de Andrade era dono do Potiguar e responsável por agregar todas essas pessoas. Ágil, atencioso, exemplo de anfitrião e de amigo.
Qual a importância dessas lembranças?
A resposta talvez esteja na certeza de que foram essas pessoas que sustentaram, naquele tempo, em Chorrochó, a melhor escola que se possa ter na vida: a amizade.
Embora às vezes angustiantes, conversas de botequim também enriquecem a convivência, independentemente de jovens, velhos, trôpegos e bêbados.
A embriaguez etílica é mais filosófica do que cômica.
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