
Raízes do Cangaço é um alentado livro de 360 páginas lançado por ocasião dos 83 anos do episódio de julho de 1938, em Angicos, Sergipe, que dizimou Lampião e alguns dos seus leais cangaceiros.
O autor é o jornalista e escritor Humberto Mesquita, abalizado conhecedor do assunto e cauteloso pesquisador.
O prefácio honra-nos a todos nós, filhos de Curaçá. É da lavra de Omar “Babá” Torres, que contribuiu decisivamente com as pesquisas e tem, por isto, valiosa participação no conteúdo da obra.
O cerne do livro tem como fundo as desigualdades sociais no sertão nordestino e o protagonismo e domínio dos poderosos coronéis de então. Aí – parece – estão as raízes do cangaço, tal como entendem o autor e o prefaciador.
Omar Torres diz que “o sertão nordestino é um mundo profundamente complexo e intenso, talvez por isso, fascinante e sedutor”.
O prefácio acrescenta que “as sofridas relações do homem com a natureza, a aridez das caatingas, a tristeza das secas, as alegrias das chuvas, a sólida estrutura de um poder perverso e opressor, a passividade de alguns e a violenta reação de outros, são exemplos das intensas contradições” por que vem passando o Nordeste, mais ainda, à época do cangaço.
Omar Torres estende-se para acentuar que “o autor atravessou caatingas fechadas, trilhou veredas e caminhos de uma história e de um tempo que ainda não acabou”.
O prefácio é enriquecedor e, mais do que isto, sintetiza o retrato de uma época de violência que, de resto, faz-se presente em nossos rincões nordestinos, embora em circunstâncias outras.
Na larga visão de Omar Torres, “Raízes do Cangaço nos traz o conhecimento e a compreensão de como se formou e se estruturou um poder que parece arcaico, distante e ultrapassado, porque assentado ao longo de séculos sobre a violência, a opressão e a concentração, mas também, e esse é um dos seus grandes méritos, não nos permite esquecer que essa estrutura se transforma, moderniza e sobrevive”.
Forças policiais, também chamadas volantes, cangaceiros, coronéis e coiteiros povoam sobremaneira a obra. Esses elementos sustentaram o cangaço e com ele o medo e a violência nos sertões.
As raízes do cangaço repousam, segundo o autor, na “ação nefasta dos colonizadores que quiseram escravizar silvícolas e negros africanos”.
As desigualdades sociais teriam nascido dessa ganância, mormente para lastrear os latifúndios e viriam desembocar, mais tarde, no cangaço.
Voltando ao prefácio, Omar “Babá” Torres encerra-o dizendo: “E nós, os velhos catingueiros, continuamos aprendendo e nos conscientizando de que é importante sabermos ser enganados pela vida, convencidos de que mais vale uma esperança tarde do que um desengano cedo”.

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