Sérgio Moro e a trajetória dos covardes

Penitenciária de Salvador, março de 1944.

O jornalista sergipano Joel Silveira, dos Diários Associados, conhecido como a “víbora da reportagem”, foi até lá e entrevistou alguns “cabras” de Lampião, que estavam presos, dentre eles Ângelo Roque, Saracura, Cacheado e Volta Seca.

Volta Seca, o mais petulante, que chegou a enfrentar o chefe Lampião, segundo registro da história, preparou-se para a entrevista.

Joel Silveira perguntou:

– Lampião era valente?

Volta Seca respondeu:

– Homem, não sei. Rodeado de amigos bem armados e dispostos, todo mundo é valente. Nunca vi ele brigar sozinho. Lampião só andava rodeado e assim qualquer trabalho é fácil.

Há 36 anos, Joel Silveira relatou a entrevista em Tempo de Contar, José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1985.

O ex-juiz federal Sérgio Moro vivia rodeado de uma gigantesca estrutura pessoal e jurídica, dentre dezenas de serventuários, seguranças, informantes, jornalistas e poder, muito poder.

Ostentava a judicatura, a arrogância e a caneta e, nesta condição, Sérgio Moro fez miséria e levou o terror até muitos, sem critérios plausíveis de julgador pago pelos contribuintes para fazer justiça.

Perseguiu réus, investigados, advogados, empresários, decretou a prisão de mais de uma centena de criminosos ou supostos criminosos, mandou executar conduções coercitivas ilegais e mais um amontoado de disparates.

Sérgio Moro fez conluio com algumas conhecidas figuras do Ministério Público, de modo que meteu os pés pelas mãos e acabou cometendo muitas e reiteradas injustiças. Pior: presume-se que fez tudo isto de propósito, ciente de que estava proferindo decisões processuais contrárias à lei e de olho em seu futuro.

Agora Sérgio Moro está do outro lado, do lado das pessoas comuns, do lado dos mortais, espectador da realidade, como todos nós.

Para piorar, Sérgio Moro caiu em desgraça no Supremo Tribunal Federal (STF), que o declarou incompetente e suspeito para conhecer e julgar alguns processos. Levou bordoadas doídas até de ministros que antes lhe apoiavam.

Sérgio Moro não dispõe mais do poder da jurisdição, que não soube usar, não tem mais caneta, não é mais rodeado de toda a estrutura do Poder Judiciário Federal para, através dela, cometer insanidades em nome da Justiça.

Mais: Sérgio Moro caiu em desgraça de deputados, senadores, bolsonaristas, lulopetistas, de grande parte da esquerda que endeusa Lula da Silva e de outra parte considerável da direita que enaltece Bolsonaro.

O portal UOL de 10/11/2021 diz que Sérgio Moro, por ser “muito cru”, vai frequentar aulas de oratória e fonoaudiologia com o intuito de enfrentar os debates com os demais candidatos.

É compreensível. Sérgio Moro não sabe falar.

Sérgio Moro sonhava em ser ministro do Supremo Tribunal Federal. Como não deu certo com o presidente Bolsonaro, acertou-lhe um coice traidor e saiu do governo.

Agora, Sérgio Moro quer ser presidente da República ou, na pior hipótese, pretende apoiar um candidato que, ganhando a presidência, prometa indicá-lo para o Supremo Tribunal Federal.

O ex-procurador Deltan Dallagnol, cúmplice de Sérgio Moro, em data recente deixou o Ministério Público para, à semelhança do ex-juiz, entrar na política e, possivelmente, manter a nebulosa parceria entre ambos.

A atuação atabalhoada de Deltan Dallagnol na Lava Jato, ao lado de Sérgio Moro, rendeu-lhe alguns processos disciplinares e acentuado desprestígio diante da instituição Ministério Público.

Sérgio Moro seguiu a trajetória dos covardes. Quer realizar seu sonho pisando no ombro de centenas de pessoas que perseguiu enquanto juiz federal, em nome da Justiça.

A teoria do cangaceiro Volta Seca se encaixa como uma luva no caráter duvidoso de Sérgio Moro.

araujo-costa@uol.com.br  

Uma consideração sobre “Sérgio Moro e a trajetória dos covardes”

  1. Um belo relato, comprovando seu tino JURÍDICO/JORNALÍSTICO, tão em falta nos dias atuais, em nossos jornalistas, comprometidos com Corporações ou partidos.

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