O presidente Bolsonaro chamou um senador do Amazonas de “anta amazônica” e “cara de capivara” e a turma em redor do presidente apelidou outro senador da região Norte de “gazela saltitante”.
Não sei por que tanta maldade de Bolsonaro e sua turma com os bichos. Comparar animais dóceis e inofensivos com senadores tão desprezíveis é, no mínimo, menosprezar os animais, que não têm nada com vingança e desavença política entre humanos.
Memória já cansada, eu sabia que a cara daquele senador do Amazonas não me era estranha. Só depois lembrei que andei muito no zoológico de São Paulo – passeio melhor do que em shopping atulhado de pessoas – e, portanto, conheci antas e capivaras.
Na CPI da Pandemia, o senador Omar Aziz (PSD-AM) constantemente chamava de “meu amigo” o cavernoso senador baiano Otto Alencar, também do PSD, que tem cara de peixe fora d´água.
O senador Otto, por si só, está fora da água política. É opaco, inoperante e pouco importante para a Bahia.
Pelo que se viu na CPI da Pandemia, Otto Alencar não anda bem acompanhado. É uma pena.
Para muitos baianos, chega a ser deprimente a representação da Bahia no
Senado Federal.
Embora aparência não qualifique a representação no Senado da República, mas a soberania do voto popular – e viva a democracia! – Jaques Wagner tem cara e pinta de Senador. Os dois outros nem isto têm.
Ao longo da história, tivemos parlamentares (deputados e senadores) de caráter suntuoso como Waldir Pires, Otávio Mangabeira, Tarcilo Vieira de Melo, Manoel Novaes, Josaphá Marinho, Aluísio de Carvalho Filho, Heitor Dias, Rui Santos, Lomanto Júnior, Antonio Balbino, Luís Viana Filho, Landulfo Alves, Pereira Moacir e tantos outros.
Omar Aziz está sendo investigado pelo desvio de milhões de dinheiro público da saúde do Amazonas, quando governador de lá, de modo que a proximidade e amizade dele com Otto Alencar remetem ao “diz-me com quem andas que te direi quem és”.
Em minha juventude, os mais velhos advertiam: “cuidado com as más companhias!”.
Décadas mais tarde, no exercício diário da profissão de advogado, ouvi de mães de perigosos meliantes presos: “ele é um bom rapaz, honesto, trabalhador, mas vivia em más companhias”.
A CPI da Pandemia do Senado deixou registros inapagáveis, dentre esses, a cara de pau de alguns de seus membros.
À frente Omar Aziz (PSD-AM), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Renan Calheiros (MDB-AL), mestres na arte de querer aparecer diante dos holofotes, a CPI quebrou o sigilo telemático do presidente da República.
Qualquer aluno do primeiro ano de Direito sabe que a medida é ilegal, por se tratar de presidente da República, qualquer que seja ele, Bolsonaro ou outro, seja de direita ou de esquerda.
Dentre outros empecilhos, a medida é ilegal, por uma razão muito simples: o presidente da República não estava, nem podia ser investigado pela CPI. A CPI não foi criada para investigar o presidente da República.
Em 23/11/2021, o ministro Alexandre de Moraes (STF), espécie de inimigo figadal de Bolsonaro e que, portanto, não morre de amores pelo presidente, diante da flagrante ilegalidade, suspendeu a decisão esdrúxula da CPI dos imorais.
Os senadores caras de pau Omar Aziz, Randolfe Rodrigues e Renan Calheiros, feias e abomináveis vedetes da CPI, devem estar cabisbaixos com a decisão do Supremo Tribunal Federal.
Certamente virão mais decisões judiciais em favor de outros perseguidos pela CPI, que foram humilhados pelos senadores “estrelas”: Omar Aziz, Randolfe Rodrigues, Renan Calheiros e Otto Alencar.
Todavia, essa direita bolsonarista não tem jeito. Desceu o malho na espevitada deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional do PT, porque Sua Excelência disse o seguinte: “Se tem alguém que tem moral para discutir sobre corrupção, somos nós do PT” (O Globo, 26/08/2021).
Confesso que não entendi a ironia e gozação da direita bolsonarista.
Gleisi Hoffmann fala de cátedra. O PT, quando no poder, passou anos engendrando, discutindo, idealizando e pondo em prática a corrupção e formas de corromper, o que não é nenhuma novidade.
Basta ler o noticiário da época. Basta pesquisar as decisões judiciais, “mensalão do PT”, por exemplo.
Logo, a deputada Gleisi está certíssima.
O PT tem know-how, habilidade e experiência para discutir corrupção. Entende do assunto, como poucos.
Acho que essa direita não tem mesmo o que fazer.
Gleisi Hoffmann cometeu apenas um “sincericídio” e falou a pura verdade.
araujo-costa@uol.com.br