
“A Bahia já me deu régua e compasso” (Gilberto Gil, Aquele Abraço)
Gilberto Gil nasceu no bairro do Tororó, em Salvador. A primeira infância foi vivida em Ituaçu, pequena cidade ao pé da Chapada Diamantina.
Gilberto Passos Gil Moreira é o novo integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL). Cabe, aqui, uma obviedade: merecidamente, eleição adequada, apropriada, necessária.
Gilberto Gil, que sempre empunhou vida cultural efervescente, entrou para a política em 1987, como presidente da então recém-criada Fundação Gregório de Mattos, órgão vinculado à Prefeitura de Salvador.
A Fundação foi criada na segunda gestão do prefeito de Salvador, Mário Kertész, eleito na esteira da redemocratização. Antes, Kertész havia sido prefeito entre 1979 e 1981, nomeado pelo governador Antonio Carlos Magalhães (ACM).
Naquele tempo existia a figura do prefeito biônico, condição imposta a alguns municípios em 1968 pela ditadura militar, indicado e nomeado pela vontade do governador de plantão, sem o crivo das urnas, em nome do interesse e da segurança nacionais.
A régua e o compasso que a Bahia deu a Gilberto Gil são sobremaneira intrincados, ricos e difíceis de descrever. A grandeza de Gilberto Gil se sobrepõe a qualquer tentativa de explicação.
Ateu, Gilberto Gil se declara adepto de Xangô e do Candomblé e não se escusa de falar sobre qualquer assunto, seja cultural, religioso, político ou filosófico.
Respeitado Intelectual de esquerda e conhecido mundialmente, o novo membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) é uma espécie de patrimônio de nossa cultura e intelectualidade.
Preso pela ditadura militar, Gilberto Gil amargou exílio em Londres, depois de ter sido vigiado 24 horas, em Salvador, pela Polícia Federal, então comandada na Bahia pelo poderosíssimo coronel Luiz Arthur.
Aquele Abraço, símbolo de seus piores dias pré-exílio, foi composta na casa de Mariah Costa, mãe da amiga Gal Costa e se tornou uma espécie de adeus provisório ao Brasil da ditatura.
Administrador de empresas, Gilberto Gil trabalhou na indústria de São Paulo, morou na periferia da capital paulista (bairro Cidade Vargas) e mais tarde despontou para o mundo.
Gilberto Gil tem título concedido pela UNESCO (Artista da Paz) e pela França (Ordem Nacional do Mérito), dentre outros. Foi vereador em Salvador e ministro da Cultura no primeiro governo Lula da Silva.
Os candeeiros que iluminaram a casa de Gilberto Gil em Salvador na década de 1940 se agigantaram e hoje iluminam nossa cultura baiana e brasileira.
A Academia Brasileira de Letras é o ápice de sua luta política diária e de seu trabalho como músico, cantor e instrumentista.
O poeta e ensaísta mineiro Abgar Renault (1901-1995) dizia que a única coisa que ele achava importante na ABL era a vaga do carro na garagem.
O cronista e romancista também mineiro Cyro dos Anjos (1906-1994), outro imortal da Academia, dizia que o mais importante lá era sua vaidade.
Em se tratando de Gilberto Gil, já aos 80 anos, ouso dizer que é o coroamento de sua vida honrada, inatacável e levada a sério.
Gil diz: “Não tenho medo da morte, mas tenho medo de morrer. A morte é depois de mim, mas quem vai morrer sou eu”.
Gil diz mais: “O que sobra é o Gil do mundo, da História”.
E agora, também, da imortalidade literária.
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