
José Januário da Silva, senhor sério e circunspecto que nasceu, se criou e morreu na Fazenda Estreito, nos barrancos do Riacho da Várzea, caatinga do município de Chorrochó e foi vereador de lá por alguns mandatos, inclusive presidente da Câmara Municipal, costumava dizer que tinha um amigo em Curaçá de nome Durval Torres.
José Januário era homem de poucos amigos, de caráter forjado ao modo antigo, respeitoso e respeitado. Por aí se vê, a grandeza e a decência da amizade a que ele se referia e a consideração que tinha a Durval Torres.
Este escrevinhador, ainda jovem, morando no mato, não conhecia Durval Torres, mas ouvia lá, na caatinga, as referências que José Januário cultivava sobre o ilustre curaçaense, arrastando-as desde o tempo em que Chorrochó pertencia ao município de Curaçá. A emancipação se deu em setembro de 1954, salvo engano.
A política os havia aproximado.
Ambos – José Januário e Durval Torres – tinham caráter inflexível e eram honestos, honrados, corretos, gente de “outros tempos”, que hoje não mais se vê. O caráter e a conduta desses homes de então indicavam o norte para as novas gerações.
Os homens daquela quadra do tempo, por exemplo, faziam seus negócios e contratavam através da palavra empenhada entre eles, prescindiam de contrato escrito e de regras formais. Valia o compromisso acertado no “fio do bigode” e não a assinatura.
A honra ditava a conduta deles e não os contratos escritos, tampouco o jamegão tão fundamental nos dias de hoje.
O mundo gira, as pessoas se movem como folhas ao vento outonal e, em razão disto e mais do que isto, conheci Durval Torres, em Curaçá.
Difícil separar o homem das referências que ouvi, ainda jovem, de José Januário.
Lembro até hoje quando o vi pela primeira vez. Eu estava conversando sobre amenidades com Juvêncio Ferreira de Oliveira (Maroto) e o ex-prefeito Gilberto da Silveira Bahia, honra e glória de Curaçá. Gilberto foi prefeito no período de 1959-1963 e deixou feitos memoráveis no município.
A conversa se dava na calçada de uma rua estreita, ao lado do Teatro Raul Coelho, centro de Curaçá. Não me recordo o nome da rua.
Durval Torres chegou, conversa franca, sem embaraços, cativante, abancou-se e enriqueceu o ambiente e a conversa com sua presença e seus olhos lancinantes, não me lembro se verdes ou azuis, mas marcantes, como se uma janela do tempo e da alma.
Durval Torres tinha conhecimento enciclopédico. Falava de tudo com absoluta experiência adquirida nos percalços da vida, só comum aos grandes homens. Sua humildade e generosidade eram impressionantes.
O desenrolar dessa conversa, naquele dia, em Curaçá – e de outras – vou contar numa futura crônica neste blog, não sei quando, se continuar vivendo e a memória ajudar.
Falar de pessoas de condutas especiais requer muito traquejo com as palavras, conhecimento sobre suas vidas e, sobretudo, disposição de não cometer gafes.
Minhas gafes costumam ser monumentais e incontornáveis. Tento evitá-las.
Nesta altura da vida, em idade quase septuagenária e a depender da memória, corro o risco de cometer vexame sobre nomes de pessoas e fatos históricos.
De todo modo, para ilustrar este artigo, surrupiei a foto de Durval Torres do álbum da neta Gardênia Torres; e afanei a foto de D. Elzita do álbum de um dos filhos ilustres do casal, Omar “Babá” Torres. Em benefício da história.
D. Elzita e Durval foram exemplos e esteios de uma das famílias mais respeitadas e queridas de Curaçá.
Está aí a prole, a descendência honrada.
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