Em Chorrochó, a paixão de Geraldo Menezes

“Amizade é um amor que nunca morre” (Mário Quintana, jornalista e poeta gaúcho (1906-1994).

Geraldo Menezes

Nascido Geraldo José de Menezes, hoje é mais conhecido pelo sugestivo nome de Geraldo Paixão.

Creio que o adotou para firmar-se no meio artístico e, sobretudo, no que mais gosta de fazer: compor e cantar.

A mãe Maria Menezes (Pina) e o pai Francisco Arnóbio de Menezes, ambos de família tradicional de Chorrochó, deixaram prole numerosa e decente sustentada nas tradições locais e representada pelos dez filhos que tiveram: Geraldo José de Menezes, Antonio Wilson de Menezes, Tarcísio Roberto de Menezes, Rita Maria de Menezes Maia, Francisco Arnóbio de Menezes Filho, Luiz Alberto de Menezes, João Eloy de Menezes, Paulo Ernani de Menezes, Cícero Leonardo de Menezes e Rosângela Maria Menezes

Se a memória não me falha – e a memória sempre falha – são esses os nomes dos filhos de Pina e Arnóbio, família hoje ornamentada com netos, alguns já famosos e, sobretudo, com amor e muita sabedoria.   

Jovem ainda, Geraldo Menezes optou pela arte. Canta e compõe músicas desde a juventude.

Não consigo esquecê-lo em Chorrochó, década de 1970, jovem bonito e elegante de cabelos longos, sonhador e inteligente, cantando sucessos no então famoso Bar Potiguar, que iam de Quem mandou você errar, de Claudia Barroso a Detalhes, de Roberto Carlos.  

Geraldo andou por São Paulo, viveu no meio artístico e por lá vislumbrou a carreira de cantor, sem contudo abdicar de suas raízes interioranas chorrochoenses e, mais do que isto, nunca se tenha esmorecido quando enfrentou os tropeços naturais tão comuns na vida de artista. 

Tempos difíceis, que acompanhei como amigo e admirador de Geraldo Menezes.

As noites insones, a procura de gravadora que lhe desse oportunidade, a possibilidade consequente de um contrato, a concorrência com cantores famosos, o mundo desconhecido e cruel dos shows, empresários, programas de televisão e a janela em direção ao sucesso tão sonhado e sempre distante e difícil.

Perseverante e persistente, Geraldo Paixão sempre trouxe consigo a força em defesa do que luta e acredita: compor e cantar. E viver e sonhar.

Não parece inoportuno lembrar que o pai Francisco Arnóbio de Menezes e o tio Vivaldo Cardoso de Menezes eram músicos, embora não se dedicassem a este mister, por força da profissão que exerciam.

Profissionais de sucesso, em suas respectivas áreas de atuação, Arnóbio e Vivaldo herdaram dos antepassados esse pendor pela arte, mormente pela música instrumental.  

Recordo-me, com saudade, Arnóbio declamando e cantando músicas de Vicente Celestino com tal perfeição que Ébrio parecia mais uma invenção sua do que do verdadeiro autor.     

A título de exemplo, lembro que a história registra que Francisco Arnóbio Cardoso Varjão, que fazia parte da raiz familiar de Francisco Arnóbio de Menezes, era maestro e poeta. 

Há quinze anos estive em Chorrochó por ocasião da festa de Senhor do Bonfim. Encontrei Geraldo Paixão numa daquelas barracas expostas na praça em frente à igreja.

Geraldo me presenteou com um CD e, mais do que isto, o autografou.  Guardo-o até hoje, com carinho e consideração. Lá está “A raposa e as uvas”, de Reginaldo Rossi, um de seus cantores preferidos.

Relapso, não costumo fazer contato regular com amigos, o que não exclui minha consideração.

Com o intuito de publicar esta matéria, à época fiz contato com Geraldo Paixão. Queria uma fotografia do nosso tempo de jovens, em Chorrochó, ele de cabelos longos, próprio da juventude rebelde da época.

Modesto, Geraldo disse que não tinha. Sei que ele tem, mas se preservou, evitou a lembrança de um tempo que não se pode mais explicar ao frio e conturbado mundo de hoje.  

Gosto do meu amigo Geraldo José de Menezes, Geraldo Paixão.

Hoje faço este registro em nome da amizade e da incerteza da vida.

Post scriptum:

Matéria editada, publicada pela primeira vez em 18/12/2021.

araujo-costa@uol.com.br

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