Cá, entre nós, hipocrisia tem outro sinônimo que não consta nos dicionários: Poder Judiciário.
O ministro Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é um dos mais ferrenhos defensores do uso de máscaras e vira e mexe dá estocadas no governo federal porque – diz ele – as autoridades negligenciam quanto ao combate à pandemia e nisto ele tem razão.
O Supremo Tribunal Federal, no governo Bolsonaro, passou a ser um balcão provisório de emissão de decisões judiciais arrogantes e desnecessárias, tamanha a intromissão dos ministros do STF em assuntos de governo, leia-se Poder Executivo.
Enquanto isso, o STF está abarrotado de processos e os ministros não têm tempo de julgar, porque estão ocupados com o ativismo político, fato estranho às nobres atividades judicantes. Coisas da esquerda ideológica de que alguns ministros fazem parte.
Vira e mexe, Sua Excelência o ministro Barroso profere decisões, inclusive liminares a torto e a direito, todas sobre regras obrigatórias no combate à pandemia do coronavírus, inclusive, extensivamente, ao uso de máscaras pela população.
Pois bem. Sábado, 18/12/2021, este mesmo ministro Barroso foi a uma festa em Rio Claro, interior de São Paulo.
Até aí, tudo bem. Ministros do STF também vão a festas. Aliás, é o que eles mais fazem. Nós contribuintes de impostos, pagamos.
Ocorre que o ministro Barroso caiu na farra, sem máscara, pegou o microfone e passou a cantar euforicamente em companhia do grande e respeitado jornalista Eraldo Pereira, do Grupo Globo.
Pior: o ministro estava sem máscara. Eraldo Pereira estava sem máscara. Os demais que estavam ao lado de ambos, estavam sem máscaras. Todos sem máscaras.
O ministro Barroso dançava, agitava e balançava os braços para a plateia cantando Aquarela Brasileira, de Martinho da Vila.
As imagens do ministro festeiro, sem máscara – que ele manda os brasileiros usarem – estão nas redes sociais, que a publicaram ad nauseam.
Diante das imagens patéticas, deixo de ilustrar esta matéria com essas ditas imagens, para poupar os leitores da cena ridícula envolvendo nosso ministro do STF e presidente do TSE.
Convenhamos, não fica bem a um ministro da Corte Suprema optar pelo “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.
Outra não é a conclusão. Ao analisar a patética imagem, conclui-se: o ministro que obriga os brasileiros a usarem máscara e critica aglomerações, não só participa de aglomerações, como não usa máscara nas aglomerações de que participa.
Talvez o ministro Barroso entenda que o vinho e o uísque caríssimos que ele deve tomar nos regabofes da alta sociedade que ele frequenta contêm antídoto contra o coronavírus.
Lembrete: a grande imprensa silenciou quanto à cena do ministro festeiro e hipócrita, por uma razão óbvia: essa mesma imprensa dá respaldo a todas as decisões do STF, mesmo que contrárias à lei e à Constituição Federal.
O ministro, sem máscara, se divertia à beça.
Ninguém se assuste se depois o ministro Barroso vá ao STF – toga às costas – e, hipocritamente, ditará regras rígidas, inclusive para o uso de máscara.
Triste Poder Judiciário que carrega essas anomalias!
Cadê o Conselho Nacional de Justiça que não vê isto?
Perdão. O ministro Barroso faz parte do Conselho Nacional de Justiça, em situações eventuais. Exemplo: se ele assume a presidência do STF. Então, o CNJ não pode enxergar isto. É míope. Convenientemente míope.
araujo-costa@uol.com.br