Bahia: catástrofe exige decência política

Governador da Bahia, Rui Costa (PT) parece desconhecer que, se ele sair de férias – o que deve ter acontecido algumas vezes – o governo da Bahia não deixará de funcionar em sua ausência.

Talvez os baianos nem sintam sua falta, não porque ele seja desnecessário ou insignificante, mas porque é a estrutura governamental, em qualquer governo e em qualquer esfera, que faz a máquina administrativa funcionar e não a presença física do governante.

O governador foi à imprensa reclamar que o presidente da República, em férias, ainda não foi aos municípios baianos castigados pelas chuvas, embora Bolsonaro tenha ido antes noutras localidades, quando a situação ainda não estava tão catastrófica como agora.

É verdade. O governador tem razão. Mas também é verdade que o presidente determinou que pelo menos quatro de seus ministros acompanhassem, in loco, tanto os estragos quanto as necessidades das populações atingidas pelas chuvas.

É o caso do ministro da Cidadania, João Roma, que é baiano. Ele foi a alguns municípios acompanhar o problema, além dos ministros Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), Marcelo Queiroga (Saúde) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos).

O ministro João Roma informou que, num só dia, o presidente lhe telefonou cerca de dez vezes, a partir das cinco horas da manhã, para inteirar-se da situação.

Por outro lado, o governo federal liberou cerca de R$ 80 milhões para reconstrução de estradas e infraestrutura urbana, inclusive sinalizou que vai disponibilizar recursos da Caixa Econômica Federal e BNDES, salvo engano.

Não se afigura decente fazer politicagem, nem parece que a ocasião seja apropriada para isto.

Se os recursos destinados pelo governo federal são insuficientes – e certamente são – é o caso das autoridades baianas reivindicarem mais recursos e cobrarem do governo da União, que deve agir com urgência, independentemente de cobrança e de partido político.

Talvez seja o caso de os parasitas baianos no Congresso Nacional – senadores e deputados federais – repensarem sobre o bilionário fundo eleitoral que vão embolsar e encontrarem formas legais de destinar parte dessa bufunfa ( R$ 4,9 bilhões reservados à campanha eleitoral de 2022) para socorro às populações atingidas pelas chuvas, seja na Bahia ou em qualquer estado.  

De qualquer modo, Rui Costa, que é um sujeito decente, vai-se apequenando. Corre o risco de cair na vale dos petistas pequenos, aqueles que colocaram o fanatismo lulopetista acima de quaisquer argumentos políticos.

Minha limitada inteligência não consegue entender como petistas que foram processados e condenados, alguns até presos, por corrupção e desvio de dinheiro público, hoje vão à imprensa dizer que precisam voltar ao poder para consertar o Brasil.

Isto não é bravata somente de Lula da Silva, cujas fanfarrices são sobejamente conhecidas e já fazem parte do anedotário nacional. Lula é exímio humorista.

É um tanto contraditório, tendo em vista a relação do PT com a Lava Jato. Mas esses petistas caras de pau parecem discípulos do ex-juiz Sérgio Moro que, com suas decisões tresloucadas, ilegais e arrogantes, quebrou a Construtora Odebrecht, dentre outras empresas e depois foi trabalhar num escritório americano que cuida da recuperação financeira da Odebrecht que ele mesmo arruinou.

Agora o já desmascarado Sérgio Moro está tentando explicar esse imbróglio indecente às autoridades (quanto recebeu por isto), mormente ao Tribunal de Contas da União (TCU) que entrou nessa história, não sei por que cargas d’água.

Voltando à tragédia da Bahia, outro dia, um canal de televisão de São Paulo estava preocupado em saber de um professor do Nordeste quais as causas de tanta chuva na Bahia.

Irrelevante a matéria jornalística diante de tanto sofrimento dos baianos. Parece fora de contexto discutir a causa das chuvas e não as formas urgentes de resolver os problemas das populações atingidas.

Entretanto, há coisa pior. Uma vez, há décadas, nosso Senado Federal aprovou “uma comissão para estudar as causas da pobreza do Nordeste”.

Nossos sábios senadores da época descobriram o óbvio e o que todo nordestino sabe há séculos: os nordestinos têm fome porque não comem, não podem comprar comida.

Sou de lá. Sei disto. Ninguém me contou. Passei fome. Vi e senti no estômago.

Como se vê, a Bahia está precisando de comida, abrigo, remédio e solidariedade.

Debates, politicagem e reclamações estéreis são dispensáveis.

araujo-costa@uol.com.br

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