“Lula quer tanto enfrentar o Bolsonaro no segundo turno que é capaz de votar nele no primeiro” (Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, Painel, Folha de São Paulo, 16/01/2022)
Só para refrescar a memória.
O que Alckmin disse de Lula em 2018: “Não existe a menor chance de aliança com o PT. Jamais terão meu apoio para voltar à cena do crime. Seus apoiadores são aqueles que acampam em frente a uma penitenciária”.
O que Lula da Silva disse de Alckmin em 2006: “A única coisa que ele sabe fazer é vender coisas. O PSDB devia ser candidato a dirigir uma empresa de vender estatais”. Mais tarde, ainda em 2006: “O governador nas suas bravatas, fala de uma moralidade que parece que ele está numa sacristia”.
Como se vê, moralidade não é o forte de Lula da Silva. O negócio dele é outro.
Luiz Marinho, ex-prefeito do município paulista de São Bernardo do Campo e ex-ministro de Lula da Silva, presidente estadual do PT de São Paulo é contra a aliança de Lula-Alckmin.
Alguns ex-guerrilheiros que se abrigam no PT também são contra: Rui Falcão (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares) e José Genoíno (Guerrilha do Araguaia), ambos ex-presidentes do partido.
Dona Dilma Rousseff, ex-guerrilheira do Colina e da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, também é contra. Mas Dona Dilma não apita muito no PT. Nunca apitou.
Outro ex-guerrilheiro, Franklin Martins (Movimento Revolucionário 8 de Outubro e Ação Libertadora Nacional-ALN), ex-ministro de Comunicação Social de Lula da Silva não diz que é contra, mas é contra, todos sabem que ele é contra.
Acontece que quem manda mesmo no PT é Lula da Silva. Lula quer que o vice dele seja Geraldo Alckmin. Lula até foi deselegante com os petistas que são contra: “o problema é deles”.
Haverá algum racha no PT, se Alckmin for o vice de Lula?
Nunca, jamais.
Os petistas – contra ou a favor da aliança – querem mesmo é a vitória de Lula e a volta ao poder para retomarem à dilapidação dos cofres públicos, continuidade ao petrolão, mensalão e outras conhecidas maracutaias mais.
Nesse último grupo inclui-se José Dirceu, outro participante da ação armada contra a ditadura, exilado e treinado em Cuba. Ele é defensor da aliança Lula-Alckmin e, como todos sabem, uma espécie de sombra discreta de Lula da Silva: o que um faz o outro sabe. E nenhum dos dois confessa.
Parte da militância arraigada petista também é contra.
Algumas citações dissonantes da aliança Lula-Alckmin:
Luiz Marinho: “Alckmin tem de ser engolível”.
Rui Falcão: “Alckmin é a contradição a tudo que o PT fez”.
José Genoíno: “O que está em jogo é se a esquerda socialista será protagonista do enfrentamento do neoliberalismo ou se a esquerda será domesticada, domada para um projeto de melhorismo por dentro de um neoliberalismo com feição progressista”.
Dilma Rousseff, que não foi convidada para o jantar de Lula com Alckmin em São Paulo, dias mais tarde questionou o ex-presidente sobre a aliança pretendida, mas os petistas favoráveis à aliança dizem que “ela não tem mais relevância eleitoral” e pouco importa a opinião da ex-presidente contrária ao conluio Lula-Alckmin.
Em resumo, Alckmin só não será vice de Lula por questões alheias à vontade de ambos.
Difícil para os petistas engolirem o nariz de Alckmin, o mesmo nariz que torceu, muitas vezes, contra o PT, o petismo e o lulopetismo. E depois ainda enfrentarem um picolé de chuchu, sabe-se lá por quanto tempo.
Mas o morubixaba de Caetés quer assim.
Coisas da política.
araujo-costa@uol.com.br