“Por que sua janela é tão alta?” (Rubem Braga, 1913-1990)
Já se disse alhures – e os entendidos repetiram exaustivamente – que a crônica não tem estilo.
A crônica se faz sobre andaimes que o cronista prepara para uma construção que nunca se acaba. Indefinidamente, não se acaba.
Assim, a crônica política.
Alexandre Frota é ator e modelo que se fez nas novelas da TV Globo e, mais tarde, se enveredou pela seara dos filmes pornográficos. Fez sucesso, em razão de seu talento, que não é talento político.
Alexandre Frota ingressou na carreira política. É deputado federal eleito na esteira do bolsonarismo, do qual se beneficiou, defendeu e abraçou e hoje está no Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), para onde se mudou de mala e cuia depois de espezinhar o presidente Bolsonaro e seus filhos, que tanto os paparicava.
Hoje Alexandre Frota deleita-se nos braços de João Dória, o governador-pavão de São Paulo, criatura desprezível que enxovalhou a história do Palácio dos Bandeirantes e conspurcou a cadeira onde se sentaram Jânio Quadros, Carvalho Pinto, Lucas Nogueira Garcêz, Franco Montoro (que sabia fazer oposição) e tantos outros honrados que governaram os paulistas.
Não se sabe se o deputado Frota é “traíra” ou se foi contrariado em algum de seus interesses, o que é mais provável.
Agora, o deputado Alexandre Frota diz que a Câmara dos Deputados “é um lixo” e vai disputar uma vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo e não quer mais voltar à Câmara, em Brasília.
Argumento pornográfico do deputado Alexandre Frota: “Não faço parte daquele lixo que se tornou a Câmara dos Deputados” (Coluna de Mônica Bergamo, Folha de S.Paulo, 20/01/2022)
Alexandre Frota fala de cátedra.
O que esperar de uma Câmara de Deputados que tem Alexandre Frota como um de seus deputados mais votados?
Não sei. Alexandre Frota diz que é lixo. Ele deve saber. Está lá.
A Câmara dos Deputados é o retrato e o espelho da sociedade, sinal de que nossa sociedade vai mal, esteve sempre mal, continuará sempre mal.
Como perguntaria o “professor Raimundo”, gênio de Chico Anysio: cite um projeto, “unzinho”, apresentado por Alexandre Frota, que beneficiou o Brasil e os brasileiros.
Não tem, não deve ter.
Mas a crônica política se faz de assuntos como esse, até com Alexandre Frota dando lições de moral.
Alexandre Frota não consegue alcançar a janela e enxergar a realidade.
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