
“O ser humano é inviável. Mas eu não sou” (Millor Fernandes, jornalista, escritor e humorista carioca, 1923-2012)
Cabo eleitoral do Partido dos Trabalhadores (PT), outrora ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, em 2010 fez campanha eleitoral para D. Dilma Rousseff.
Deu certo. Grata, D. Dilma o nomeou em 2015 para ministro do STF. O sentimento de gratidão é muito relevante e esta é uma qualidade inegável da ex-presidente petista (Opa! A turma do politicamente correto diz que o certo é presidenta).
Anos mais tarde, numa só canetada petista, Edson Fachin declarou incompetente a 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba – que julgou e condenou Lula da Silva à prisão – e abriu caminho para o STF declarar suspeito o ingênuo e atabalhoado Sérgio Moro, que hoje virou uma espécie de político aventureiro e despreparado e está levando bordoadas de todos os lados, da direita e da esquerda.
Mais: mui diligentemente, Edson Fachin anulou as sentenças (leiam-se condenações) que mandaram Lula da Silva para o xilindró porque, afinal, foi o PT que o indicou ministro vitalício do STF e não é errado exercer o sentimento de gratidão.
Em consequência, embora não tenha sido declarado inocente, por força de disposição processual – que, em quadro assim, manda os processos começarem da estaca zero – Lula está leve e solto da silva, apto e habilitado para disputar a presidência da República, graças ao cabo eleitoral Edson Fachin.
Dentre os membros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), três são também ministros do STF, por mandamento constitucional. Até aí, tudo bem, deve-se cumprir fielmente a Constituição da República.
Entretanto, como o STF virou uma espécie de partido político defensor da esquerda, os três ministros da Corte, que compõem o STF, conseguiram levar para a instância máxima da Justiça Eleitoral uma pitada ardente de participação política que costumam cultivar dentro do Supremo ao arrepio da Constituição da República.
Nesses 90 anos da Justiça Eleitoral (o Código Eleitoral foi criado em 24/02/1932, por Getúlio Vargas), essas eleições vindouras de 2022 terão mais ministros do TSE se imiscuindo em assuntos políticos do que julgando questões estritamente eleitorais.
Lula da Silva precisa ganhar. Outros precisam perder. Assim querem seus famosos cabos eleitorais.
Mas Lula é um sujeito esperto, aliás espertíssimo. Anda dizendo por aí que a eleição não está ganha e ainda há muito trabalho pela frente.
As pesquisas sustentadas pela esquerda estão exagerando a seu favor e Lula não está engolindo esse maná tão facilmente. Lula sabe onde pisa.
Amigos muito próximos de Lula dizem que ele está com o “pé no chão” e não anda tão eufórico assim como seus apoiadores, tanto que está arrebanhando votos do paulista Geraldo Alckmin, ex-PSDB e outrora seu adversário, para tentar construir uma margem segura nas urnas.
O PT nunca ganhou eleição para o governo de São Paulo, mesmo nos tempos que estava no auge e Alckmin sempre foi uma pedra no sapato de Lula.
Antes adversários ferrenhos e irreconciliáveis, Lula e Alckmin viviam se engalfinhando. Hoje vivem se beijando. O amor é lindo.
Lula conhece política, é mestre em campanha eleitoral e, se ele estiver achando assim, é porque tem informações seguras de que há otimistas demais exagerando e dizendo que a eleição dele está garantida.
Lula vem perdendo os cabelos de tanto andar na estrada da malandragem política.
Nesse quiproquó todo – e Lula pisando no chão – os cabos eleitorais de Lula da Silva, inclusive o ministro Edson Fachin, devem estar perdendo o sono com uma possível queda do morubixaba de Caetés nas pesquisas, embora fortemente maquiadas pela esquerda.
Millor Fernandes tinha razão: “o ser humano é inviável”.
O jornalista Elio Gaspari conta uma história engraçada em sua coluna na Folha de S.Paulo de 20/02/2022:
“O marquês do Paraná, grande ministro do Império, morreu em 1856. Velado na velha catedral, a família aproveitou a madrugada para descansar em casa. Quando voltou, o marquês estava sem o fardão de senador e sem as condecorações nele espetadas”.
Levaram o fardão e as condecorações do defunto, sorrateiramente.
Lembrete às más línguas: naquele tempo, por óbvio, não existia o PT, nem todo esse amontoado de excrescência partidária, que abunda hoje, especialista em surrupiar dinheiro público. A arte de furtar vem de longe.
araujo-costa@uol.com.br