
“Toda ideia precisa de outra que se lhe oponha para aperfeiçoar-se”. (Hegel, filósofo germânico, 1770-1831)
As imagens são constrangedoras e degradantes, para dizer o mínimo. Ou, no mínimo, entender que o nosso bem público não é tão público assim e muito menos nosso.
Pacientes de Curaçá, que precisam de atendimento clínico, inclusive hemodiálise, vêm passando por constantes descasos que beiram à humilhação, em razão de padrões seguidos pela Prefeitura.
Por exemplo, em Curaçá não há equipamentos e serviços disponíveis para o atendimento de hemodiálise, tendo em vista a precariedade da estrutura do município. Compreensível que seja assim.
Em razão disto, a Prefeitura transporta os pacientes em veículo da Secretaria da Saúde até Juazeiro e, neste particular, o faz corretamente, embora aqui não se esteja questionando as condições do transporte.
Em Juazeiro, os pacientes são submetidos a procedimento de hemodiálise numa clínica de nefrologia com endereço na Rua José Pititinga, 292 e Rua do Paraíso, Bairro Santo Antonio.
Ressalte-se que, por óbvio, dita clínica não tem responsabilidade sobre eventual ato e descaso da Prefeitura.

Até aí, presume-se que esteja tudo bem. Mas não está. Não pode estar.
Os pacientes já fragilizados em razão do procedimento de hemodiálise sentam-se na calçada e no meio fio, em meio a animais e ali mesmo fazem suas refeições.

Este blog não tem conhecimento da existência de ponto de apoio da Prefeitura de Curaçá, em Juazeiro, de modo a permitir aos munícipes, nesse momento de dor e fragilidade, que façam as refeições em local decente e apropriado e usem sanitários e banheiros, se necessário. E geralmente é necessário, em situação assim.
O blog pede escusas à administração municipal se, neste particular, a verdade dos fatos caminha em sentido inverso e se dispõe a corrigir essa informação se necessário fazê-lo, mas ousa perguntar: se tem casa de apoio, por que os pacientes ficam ao desabrigo da rua?.

Não é função deste blog criticar apenas por criticar, mas publicar, com cautela, o que consegue apurar e seja de interesse público.
Em quadro assim, parece sobrar desrespeito e incapacidade da Prefeitura de Curaçá no sentido de sustentar a dignidade desses munícipes expostos a essa espécie de abandono moral.
As situações são recorrentes. Este blog teve acesso a imagens estarrecedoras, que remontam a fevereiro de 2021, retratando situação semelhante.

A lógica autoriza a presumir que essa demanda está afeta à Secretaria Municipal de Saúde e, por extensão e subsidiariamente, à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, salvo melhor juízo.
Pelo que se vê, ambas as secretarias não estão desempenhando satisfatoriamente seu mister ou fazem em desacordo com as necessidades da população, o que dá no mesmo, a julgar por esse caso vergonhoso a que nos referimos.

Registro, com clareza indubitável, que esta matéria não pretende arranhar o mérito profissional e a capacidade dos ilustríssimos senhores secretários municipais das referidas pastas e tampouco do prefeito, mas é inegável constatar que essas imagens depõem contra nosso querido município de Curaçá. E isto entristece.
É razoável presumir que a oposição ao prefeito de Curaçá está capengando ou, no mínimo, cochilando. E se estiver cochilando está errada, porque oposição não pode cochilar.
A Câmara Municipal se faz silente, inexplicavelmente silente.
Aliás, neste cenário, é difícil entender o papel da oposição de Curaçá, se é que Curaçá tem oposição ao prefeito.

A oposição tem o dever de vigiar, fiscalizar, acompanhar, perguntar, cutucar, sugerir e, mais do que isto, apontar as falhas da administração, para que o gestor possa melhorar. É a lição do filósofo Hegel que abre esta matéria.
Ressalte-se, a bem da verdade, que a função de fiscalizar o Executivo Municipal não é somente da oposição. É também da situação, dos vereadores que dão sustentação ao prefeito e não sejam adeptos da subserviência.
Entretanto, nem sempre as falhas eventuais, costumeiras ou constantes do prefeito e de sua equipe resultam de conduta proposital. Pode resultar de visão diversa àquela esperada pela população. É aí que surge a necessidade de ajuste no caminhar da administração, para coadunar-se ao interesse público.
Se a população não reclama, não exige e fica calada, é natural entender que o prefeito acha que está tudo bem.
Ninguém sabe o que calado quer. E o que pensa, se pensa.
Mas é seguramente certo que ninguém deve se apequenar diante de descalabros perpetrados pela administração pública, qualquer que seja a esfera de atuação, municipal, estadual e federal.
Nenhum ato moralmente inaceitável, qualquer que seja ele, deve ser tolerado e absorvido pela sociedade, mormente quando atinge os mais humildes, os economicamente desamparados.
Para isto, estamos construindo a democracia.
araujo-costa@uol.com.br