Bahia: o inglês ruim do governador Rui Costa

“Aquele que quiser ver bem uma coisa, deve olhar para o outro lado” (Rubens Figueiredo, A festa do milênio)

Ao contrário do cantor Roberto Carlos, que confia nos erros do seu “português ruim” (Detalhes, 1971), Rui Costa assinou contrato milionário com uma empresa picareta e atribuiu a maracutaia petista ao fato de não ter “pleno domínio do inglês”.    

Governador da Bahia, quando presidente do Consórcio Nordeste, Rui Costa (PT) comprou, pagou adiantado – e não recebeu – 300 respiradores da empresa Hempcare Pharma que, segundo ela própria anunciou, entende de confecção de roupas femininas íntimas e importação de medicamentos à base de maconha.

Nome da empresa: Hempcare. Em tradução livre “hemp” significa maconha e “care” significa cuidado.

Números de funcionários da empresa à época do contrato: dois, apenas dois. Dava para desconfiar. Ou não?

Qualquer aprendiz ou estagiário de departamento de compras não faria a aquisição sequer de esparadrapo de uma empresa dessas. Está na cara que a empresa é inidônea relativamente ao quesito respirador.

Mas Rui Costa não vislumbrou nenhum problema. Fez o negócio milionário e pagou adiantado. “Eu não tenho pleno domínio da língua inglesa”, justificou.

O negócio é tão estapafúrdio que a Polícia Federal descobriu que o pagamento à empresa foi feito antes da assinatura do contrato.

Esses respiradores seriam distribuídos aos nove estados do Nordeste. Suas Excelências os governadores da região formaram um complô político e o denominaram Consórcio Nordeste, a pretexto de promoverem o crescimento sustentável e o desenvolvimento social.

Lorota. No Nordeste não há crescimento, nem desenvolvimento social.

Os governadores nordestinos se fecharam iguais a tatu-bola e silenciaram quanto à maracutaia que engoliu R$ 48 milhões de dinheiro público e não receberam um respirador sequer. Nem vão receber.

Como se vê, a empresa contratada entende tanto de respiradores quanto alguns membros da extinta CPI da Pandemia do Senado entendem de honestidade.

A CPI da Pandemia do Senado deu de ombros quanto ao assunto, apesar de insistentemente provocada a investigar o caso.

O que se podia esperar de uma CPI presidida por um ex-governador acusado e investigado de desviar R$ 260 milhões da saúde em seu estado?

O que se podia esperar de uma CPI cujo relator coleciona inquéritos no Supremo Tribunal Federal, versando sobre corrupção e lavagem de dinheiro, dentre outros crimes?

Em data recente, o governador Rui Costa prestou depoimento à Polícia Federal sobre o caso. Discípulo aplicado de Lula da Silva foi logo dizendo: “Não sei de nada”.

Agora a imprensa publicou trechos do depoimento do governador à Polícia Federal. É contraditório, inclusive com o que disse seu ex-secretário da Casa Civil da Bahia, Bruno Dauster.

Como o inquérito envolve o governador Rui Costa na condição de investigado, a suposta “capivara” deve ser enviada ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), órgão competente para conhecer, processar e julgar governadores de estado, que vai dizer qual o próximo passo.

A revista Veja apurou: “O negócio, fechado a toque de caixa através do WhatsApp  e com pagamento adiantado, previa a compra e a distribuição dos equipamentos aos nove estados da região”.

A revista vai além: “O negócio, desde o início, foi planejado para dar errado” (Veja, 23/07/2021). 

Mais, segundo a Veja: “A microempresa, como se sabe, na verdade aplicou um monumental golpe: sumiu com o dinheiro e nunca entregou as máquinas”. 

Esta história vai longe. E vai dar em nada.

Interessante é que os governadores do Nordeste cobravam eficiência do governo federal quanto ao combate à pandemia. Enquanto isto, enterraram R$ 48 milhões que deveriam ser usados no combate à doença e teriam evitado a morte de centenas de pessoas.

Em resumo: “Investigado pela Polícia Federal em um dos maiores golpes nos cofres públicos durante a pandemia de covid-19, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), alegou em depoimento à Polícia Federal não ter “pleno domínio do inglês” e por isso não sabia que pagou adiantado R$ 48 milhões a uma empresa de produtos à base de maconha, a Hempcare, para compra de respiradores que jamais foram entregues” (Diário do Poder, 27/04/2022).

Como se diz lá no meu Nordeste, “quem atira com pólvora dos outros não toma chegada”.

Nesta semana a Polícia Federal esteve no Victoria Tower, luxuoso prédio do Corredor da Vitória, em Salvador, o metro mais caro do Nordeste e onde moram muitos petistas graúdos. A PF fez diligência no local sobre os tais respiradores.

Parece que o dinheiro dos respiradores passou pelo Corredor da Vitória, ninho do senador Jaques Wagner e de outros afortunados petistas.

araujo-costa@uol.com.br

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