Chorrochó, tempo de contar: Francisco Afonso de Menezes

“A verdadeira juventude é uma qualidade que só se adquire com a idade” (Jean Cocteau, poeta e romancista francês, 1889-1963)

Deixo de lado a modéstia – se é que a tive nalgum tempo – e cuido aqui de um amigo precioso: Francisco Afonso de Menezes.

Alguns amigos que tenho, outros tantos que não são meus amigos e outros mais que detestariam ser meus amigos já me disseram, por vezes, que sou mais arrogante do que modesto. Eles devem ter razão.

Todavia, vivo também meus momentos de humildade. Lembro os amigos, os caminhos percorridos, os tropeços, as pessoas boas com as quais convivi e, sobretudo, sou grato a todas, mormente aquelas que me suportaram. Foram tantas! São tantas!

Francisco Afonso de Menezes é chorrochoense da gema. Mantém-se ligado ao município por simultâneos vínculos de família e tradição.

Defensor intransigente da cultura de Chorrochó, Afonso tem sido vigilante no sentido de preservar as tradições da Paróquia de Senhor do Bonfim, embora tenha sido cauteloso no trato com o entendimento às vezes exaltado de pessoas que pensam de modo diverso. Quase sempre é contemporizador em benefício das tradições locais.

Afonso é uma espécie de personal consultant de muitos. Confesso que aprendi muito com ele em momentos em que era preciso saber lidar com os impulsos que me empurravam para o despenhadeiro da inconsequência e do imponderável.

Afonso é cria da pioneira Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco (FAMESF), que lhe concedeu a graduação e o tecnicismo profissional que soube exercer com afinco e responsabilidade.

É estudioso dos assuntos de sua formação e profissional respeitado em seu meio de atuação. Ostenta considerável folha de serviços prestados ao desenvolvimento da agricultura moderna da região como grande conhecedor das ciências agrárias.

Começou sua vida profissional na então conceituada EMATER-BA, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Bahia, instituição que prestou, em sua área, valiosa e eficiente contribuição para a população do semiárido baiano.

Contudo, não trato aqui do profissional. Não tenho preparo para tanto. Quero dizer mesmo é que me fiz amigo de Afonso, coisa lá de algumas décadas. Também, não quero falar aqui de sua conspícua família, esteio de pessoas de bem de Chorrochó, tampouco de seu pai Joviniano Cordeiro de Menezes (Jovino) e de sua mãe Maria Alventina de Menezes (Iaiá).

Limito-me ao jovem Afonso que conheci em Chorrochó: afável, estudioso, inteligente, cortês, encantador. Tantos anos!

Na juventude, em Chorrochó, ele fazia parte de um vistoso quarteto: José Osório de Menezes, Francisco Ribeiro da Silva, Juracy Santana e ele próprio. A eles se somavam outros tantos, a exemplo de Antonio Geraldo Rodrigues de Menezes e Antonio Euvaldo Pacheco de Menezes. Eu não fazia parte dessa saudável confraria.

Quase todos já se foram. Continuamos alguns poucos, saudosos e circunstantes, cônscios da efemeridade da vida, meditando, remoendo, ruminando as vicissitudes do existir.

Admiro algumas qualidades de Afonso, dentre essas o apego às tradições da terra natal, o arraigado interesse pela história do município e, sobretudo, a lealdade aos seus princípios.

Outra qualidade de Afonso é a aptidão para preservar amizades, dentro as quais me incluo, honrosamente, não obstante tropeços ao longo do caminho, que ele sempre soube entender e contornar. Mantenho-o amigo. Mantemo-nos amigos. É um amigo generoso, sábio, compreensivo, prudente.

Confesso que quase sempre lhe peço socorro, quando me encontro atabalhoado e às voltas com dúvidas sobre a história de nossa região. Ele tem sido prestativo.

Quem lida com a História, embora não historiador, mas curioso, assim como eu, vive permanentemente cheio de dúvidas, porque os fatos devem ser retratados de acordo com a verdade e não adstrito à opinião de quem relata

Afonso já se debruçou em tarefas ingentes com vistas ao enriquecimento da história de Chorrochó. Sobressaem-se dois livros: Memorial Cordeiro de Menezes História de Chorrochó, este em coautoria com a insigne professora Neusa Maria Rios Menezes de Menezes de quem sou renitente admirador.

Afonso é autor do Hino de Chorrochó e da Bandeira do município, relevantíssimos feitos que, por si sós, enriquecem e emolduram sua biografia de forma perene e contribuem valiosamente para a grandeza de Chorrochó.  

Afonso é também administrador de empresas. Extraí estas suas palavras do discurso de formatura: “A capacidade sonhadora é bem maior que as realidades existenciais e a força de identificar sonhos com a vida faz com que acreditemos que o amanhã será melhor”.

Trata-se de pensamento otimista, eloquente, estribado na esperança e na crença de horizontes promissores. É um bálsamo para a juventude, mesmo aquela que se tornou jovem com o envelhecimento, com o passar dos anos.

Deixei para o final, adredemente, a inclusão do título Doutor que omiti no texto e que Afonso dignamente ostenta: Dr. Francisco Afonso de Menezes.

A caminho da fase octogenária, que ainda demora algum tempo, Dr. Afonso e eu diremos, à semelhança de Tristão de Atayde: “Chegando aqui, que surpresa! Olhando para trás, que deserto!

E como iniciei este texto citando a frase de Jean Cocteau sobre a juventude e, presumindo que Afonso algum dia venha a se deparar com esta crônica, faço-lhe a pergunta, usando o linguajar de nosso tempo: continua jovem, bicho?

Post scriptum:

Explicação sobre a imagem que ilustra este texto: Não é fácil encontrar uma foto do Dr. Francisco Afonso de Menezes. O homem não sai por aí, facilmente encontrável e – parece – anda meio avesso a badalações e cliques fotográficos. Entretanto, tomei a liberdade de socorrer-me de um álbum do seu sobrinho e também brilhante Doutor, Roberto Carvalho. Da esquerda para a direita, vê-se Dr. Francisco Afonso, sua esposa Perpétua e o sobrinho dele Dr. Roberto.

araujo-costa@uol.com.br

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