Curaçá não pode ser uma casa de mal educados

Sandoval Caju (1923-1994), folclórico radialista paraibano de Bonito de Santa Fé, sempre vestido de branco, ao chegar a qualquer lugar, ia logo dizendo:

– Vim de branco para ser claro.

Estou começando este artigo pelo óbvio, para ser claro: nas democracias, os governantes são escolhidos pelos votos da maioria. Quem ganha vai governar. Quem perde vai para outra trincheira, não menos nobre, a oposição.

A população do Brasil ultrapassa 212 milhões de habitantes. Todos sabem.

Inobstante população deste tamanho, o Brasil experimenta um vazio de lideranças políticas em todas as esferas de poder.

Não têm surgido lideranças novas, sérias, capazes e de caráter irrepreensível, de modo que as velhas lideranças estão aí, incólumes, ultrapassadas e capengas, repetindo os mesmos erros de outrora e, pior, com o beneplácito de grande parte dos brasileiros. Talvez, por falta de opção ou mesmo por isto.

É assustadora a expectativa de que a eleição presidencial de 2022 venha a ser decidida entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro, que se igualam quanto à ausência de sinceridade política.

Lula é demagogo, narcisista, loroteiro, fanfarrão.

Bolsonaro é grotesco, esquisito, sem filtro, ideias amalucadas.

Um e outro estão na política há pelo menos três décadas. Onde está o novo? Onde estão as novas ideias?

A sociedade não encontrou outros nomes para que se interpusessem entre um e outro e fossem capazes de afastar o entulho fedorento da política, que vem ocupando espaços do território brasileiro, em todos os seus rincões.   

Em Curaçá, no Submédio São Francisco, parece que o bicho chamado democracia não anda passando por lá.

Democracia pressupõe, basicamente, convivência sadia e civilizada com os contrários e livre manifestação do pensamento em sua plenitude.

Nas democracias, as pessoas são livres para externar o que pensam, sem impedimento ou censura de qualquer natureza.

A fronteira para nossas palavras é o direito do outro. Devemos dizer o que pensamos desde que não resvalemos para a ofensa à esfera indevassável das outras pessoas que, como nós, convivem ou pretendem conviver no mesmo espaço supostamente democrático.

Se esse limite for ultrapassado, a democracia oferece meios de reparação de eventuais danos materiais e/ou morais exigida por quem sofreu a ofensa. É uma forma de proteção ao direito de cada um.

A Constituição da República assegura esse direito a todos nós. Ao Poder Judiciário cabe aplicá-lo às situações concretas e, neste particular, o Judiciário tem feito muito bem.  

Embora não conste na agenda do presidente da República, por enquanto, o prefeito de Curaçá já anunciou a visita de Bolsonaro a Curaçá em julho vindouro, por ocasião da Festa dos Vaqueiros.

A manifestação do prefeito autoriza a entender que a visita está confirmada com o Palácio do Planalto.

Foi só o prefeito anunciar a visita do presidente da República ao município para surgirem, nas redes sociais, comentários desairosos e desnecessários contra o presidente da República.    

São comentários que extrapolam a decência do debate político e descambam para as ofensas pessoais, pré-julgamentos e xingamentos.

Assim fizeram com Lula da Silva, nos difíceis dias que ele atravessou inclusive no cárcere, massacre este comandado pela imprensa e pelos adversários do lulopetismo.  

Independentemente de a visita ser de Bolsonaro ou de Lula da Silva, ambos devem ser respeitados, bem recebidos e, mais do que isto, a visita deve ser entendida como um marco político para Curaçá, mesmo que não seja inauguração de obras, assinaturas de intenções, promessas de liberação de verbas, expectativa de investimentos e outros que tais.

O governante, Bolsonaro ou outro qualquer, precisa conhecer a realidade de cada lugar. E isto é feito in loco, em contatos com as lideranças ou através de seus assessores, mesmo que aconteça em ano eleitoral.

Houve tempo em que sequer o governador do Estado visitava municípios do interior. Presidente da República, então, era impensável.

Entretanto, parece que algumas pessoas têm dificuldade de entender o que é democracia e que a civilidade faz parte da convivência com os contrários e não uma hipótese distante de nossa realidade.

Os antagonismos aperfeiçoam as ideias. Os xingamentos as afastam.

Não adianta as pessoas saírem por aí reivindicando e exigindo democracia se não sabem exercê-la.

O anfitrião deve receber bem o visitante, mesmo que dele não goste. Faz parte da etiqueta e das regras sociais.

O inconformismo deve se manifestar nas urnas, secretamente, na cabine indevassável. É aí e nesse momento que se dá o troco.

Se acontecer a visita do presidente Bolsonaro ao município, Curaçá não pode apresentar-se como uma casa de mal educados.

araujo-costa@uol.com.br

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