
Todo lulopetista de verdade conhece ou sabe quem é o jornalista Ricardo Kotscho.
Ricardo Kotscho está beirando os 46 anos de profissão. Dentre outros veículos de comunicação, passou pela Folha de S.Paulo, Jornal do Brasil e O Estado de S.Paulo.
Ético, sabe tudo de jornalismo e de decência jornalística. É repórter por excelência.
Ricardo Kotscho é um dos amigos de Lula da Silva e foi seu assessor de imprensa em três campanhas presidenciais do petista. Quando Lula era pobre, acompanhou-o em todas as caravanas de Lula pelo Brasil de ponta a ponta e foi secretário de Imprensa e Divulgação do Palácio do Planalto no governo do petista.
Em suas memórias, Ricardo Kotscho conta um fato interessante que explica bem o PT (Uma vida de repórter – Do golpe ao Planalto, Companhia das Letras, 2006).
Em 1994, numa das caravanas de Lula da Silva aos rincões do estado do Pará, foi abordado por um rapaz que lhe disse o seguinte: “o senhor precisa dizer para Lula que eu quero entrar no partido, mas o pessoal do PT aqui não deixa porque diz que eu sou burguês”.
– Como assim? – quis saber Ricardo Kotscho.
– Sabe o que é? É que eu tenho carro próprio – explicou o rapaz.
Ricardo Kotscho perguntou, investigou, descobriu. O rapaz era carteiro na cidade e tinha um veículo. Para o PT, em razão de ter um carro, ele era burguês e não permitia sua filiação ao partido exatamente por ser burguês e o partido é dos trabalhadores.
Ou seja, para o PT míope, que continua míope, ter um carro significa ser burguês. A propósito, Lula da Silva disse recentemente que nossa classe média ostenta demais e quer mais de um televisor em sua residência, quando um só é suficiente. “Pra que mais de uma televisão?” – perguntou Lula.
A assessoria de Lula da Silva precisa mostrar, para amparar as declarações do morubixaba, quantos televisores ele tem em suas residências em São Bernardo do Campo e na mansão do aristocrático bairro de Pinheiros, capital de São Paulo.
Repórter experiente, Kotscho foi além, descobriu mais: “na eleição anterior, o número de votos recebidos pelo PT naquele município do Pará fora menor que o de seus filiados. Estava tudo explicado”.
O Partido dos Trabalhadores (PT), como toda organização humana, padece de miséria e fraqueza e, neste particular, não é privilégio da agremiação petista. Contudo, o PT é formado de grupos.
Primeiro grupo: os elitistas
Há 42 anos, em 10/02/1980, o PT nasceu oscilando entre o erro e o sonho.
Com grande apoteose, o partido foi fundado nas dependências do tradicionalíssimo e centenário Colégio Nossa Senhora de Sion, frequentado pela elite quatrocentona paulistana.
Naquele dia, ali tinha de tudo: intelectuais exaltados, esquerdistas frustrados, sonhadores, líderes bem intencionados, ex-presos políticos e opositores ferrenhos da ditadura militar, ingênuos de toda ordem, et cetera. Menos trabalhadores.
O simbolismo não podia ter sido maior. Lula diz até hoje, com todas as letras e até com uma ponta de orgulho, que nunca os banqueiros e a elite empresarial ganharam tanto dinheiro como nos dois mandatos dele na presidência da República.
Neste grupo elitista incluem-se o próprio Lula da Silva – o único aposentado do INSS que ficou rico – dirigentes petistas, intelectuais, empresários, hipócritas de toda ordem e por aí vai.
É a turma das mansões, jatinhos, hotéis cinco estrelas, champanhes e uísques caros, regabofes monumentais, estratosféricas contas bancárias e que adora dinheiro público.
Segundo grupo: os fanáticos
Neste grupo incluem-se os petistas exaltados, que veem Lula da Silva como um “Antonio Conselheiro” ressuscitado e aceitam de olhos fechados tudo que o morubixaba petista diz. Deleitam-se com as lorotas, devaneios e demagogia de Lula.
Para esses, Lula da Silva é o suprassumo da honestidade, da seriedade e da decência, o presidente que expeliu a pobreza dos pobres, mesmo estando claríssimo que esses mesmos pobres continuem pobres, gritantemente pobres. Mas eles acreditam, mesmo que também sejam pobres.
A generosidade de Lula da Silva ainda não chegou a este pobre escrevinhador. Tenho esperança que chegue e me tire da pobreza.
Terceiro grupo: a massa de manobra.
Nesse grupo incluem-se aqueles que não têm a menor ideia do que seja política e administração pública, mas ocupam as redes sociais para falar asneiras, acompanham os líderes locais e se deixam levar pelos discursos dos experientes impostores petistas.
Para esses, Lula da Silva é o máximo, o PT é o máximo, só os petistas falam a verdade.
Para entender bem esse grupo, um exemplo: a Bahia amarga um dos piores índices educacionais, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, mas o PT escolheu o professor Jerônimo Rodrigues, ex-secretário estadual de educação (que ironia!), para ser o candidato do partido ao governo do Estado em 2022.
Sob o título, “Bahia é reprovada em ranking que avalia ensino médio desde 2013”, o Correio publicou em 09/05/2022: “Se a Bahia fosse um estudante, o estado teria sido reprovado no ensino médio seis vezes seguidas”.
Mesmo assim, a Bahia assegura a Lula da Silva pelo menos 60% dos votos, segundo recente sondagem, o que pressupõe que a população do estado apoia maciçamente o PT e está satisfeita com os governos petistas.
O PT consegue essa façanha e mérito: ser visto sem ser notado.
araujo-costa@uol.com.br