Há uma regra básica no jornalismo, segundo a qual, quando se reporta a um fato, não se deve interferir nele.
Outra regra, essa mais flexível, diz que uma foto pode confirmar ou desmentir o repórter.
No vespertino Estúdio i e nos noturnos Em Pauta e Jornal das 10, a GloboNews vem quebrando sistematicamente essas regras.
Por óbvio, uma coisa é comentar um fato. Outra é distorcê-lo de tal forma a ajustá-lo à vontade e ao pensamento da emissora que emprega apresentadores e comentaristas. São situações completamente diferentes.
Quem pretende inteirar-se sobre fatos do Brasil real, ao assistir esses noticiários citados, deve-se prevenir com remédio contra enjoo, aguçar a capacidade de discernimento e filtrar os contornos de ficção que esses programas tentam transformar os fatos e, ao seu modo, enfiá-los goela abaixo do telespectador.
É constrangedor ver apresentadores e comentaristas engasgando-se com as palavras, fazendo contorcionismo ideológico e verbal para mostrar os fatos consoante o pensamento do Grupo Globo e não fielmente de acordo com o ocorrido no mundo real.
O teleprompter (teleponto) é como papel, aceita tudo. Os editores daqueles noticiários inserem neles notícias tendenciosas que os apresentadores pateticamente leem e os comentaristas pateticamente comentam.
Isto mutila o bom jornalismo, apequena a credibilidade do órgão de imprensa, arranha o exercício profissional e, sobretudo, desmerece e afronta a inteligência de quem assiste.
É ilógico admitir que o Brasil não tenha uma notícia boa, sequer um fato positivo, econômico, social ou político, que a GloboNews vislumbre e seja capaz de afastá-la da pequenez político-partidária do período eleitoral.
É triste ver reconhecidos jornalistas, antes respeitáveis, abdicando da seriedade profissional certamente para agarrar-se ao emprego. Desnudam-se da robustez da verdade em nome de um objetivo menor, o interesse econômico da emissora.
Os leitores deste Blog, que são inteligentes, não são ingênuos a ponto de acreditar que nalgum tempo o jornalismo foi diferente. Não foi, nunca foi. Mas daí a descambar para a panfletagem política é demais.
O Brasil não é o governo, nem se resume a governo algum. Tampouco será este ou aquele governo. Não é o presidente Bolsonaro, não é o ex-presidente Lula da Silva, não será outro.
O presidente Bolsonaro não é bicho de sete cabeças e está atravessando a fase final desse período de quatro anos de turbulento governo. O Brasil não acabou.
O ex-presidente Lula da Silva não é bicho de sete cabeças e foi presidente da República por dois mandatos. O Brasil não acabou.
O Brasil é a nação em si e os princípios democráticos que o norteiam. É o Estado federado que é maior do que qualquer órgão de imprensa tendencioso e adstrito a interesses econômicos.
Esse tipo de jornalismo capenga não é privilégio do Grupo Globo. Outros grandes órgãos de imprensa também o praticam acintosamente, sem nenhum pudor e sem respeito à inteligência de quem lê e assiste.
Mas a GloboNews conseguiu atingir o ridículo.
O Brasil já teve melhor jornalismo. Felizmente.
araujo-costa@uol.com.br