
“É não saindo de casa que a gente acaba sabendo das coisas” (Joel Silveira, 1918-2007).
Em 23 de setembro, início da primavera, completa-se mais um ano na vida de minha ilustre professora Maria Therezinha de Menezes.
A professora Maria Therezinha de Menezes, ícone da educação de Chorrochó, não saiu de casa, nunca abandonou sua aldeia, mas acabou sabendo muito das coisas. Entende de conhecimento, de vida, de experiência.
É conhecida a frase de Leon Tolstoi (1828-1910): “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”.
A professora Therezinha sempre pintou com tintas próprias a aldeia em que vive. E pinta muito bem até hoje, com dedicação e maestria.
Eficiente e refinada professora, lídima e notável integrante da família Menezes, é mestra conspícua de estilo próprio e sábia intérprete da sociedade chorrochoense.
Católica tradicional e respeitável educadora, a professora Therezinha ocupa ilustre destaque em Chorrochó, inclusive enriquecendo as atividades da Paróquia Senhor do Bonfim. É fervorosa defensora do centenário Apostolado da Oração e de tantas outras tradições que lá se fazem presentes.
Lembro uma frase de D. Guido Zendron, bispo de Paulo Afonso, ao se referir ao Apostolado da Oração de Chorrochó: “Na história da salvação, o que importa não são os anos, os meses ou os dias, mas as pessoas. Dentro dessa história, nós vamos encontrar pessoas que de um jeito ou de outro corresponderam ao amor de Deus com toda fragilidade humana” (Rádio Vale do Vaza Barris, 17/08/2015).
A professora Therezinha deve pensar assim, creio que pensa assim. Sempre demonstrou preocupação com a fragilidade humana. Parece entender o âmago, o sentimento das pessoas. Tanto que se esmera com absoluta dedicação e seriedade no sentido de evitar o esmorecimento da história da Igreja de Chorrochó. E a história da Igreja não pode se dissociar da fraqueza humana. Assim atestam os séculos.
Conheci a professora Maria Therezinha de Menezes em 1971. Como se vê, algumas décadas já se passaram. À época, eu era ginasiano do Colégio Normal São José, cujo prédio histórico o progresso transformou em escombros, em poeira, em nada. Ela era professora da instituição.
Fui seu aluno de Português. Confesso, apoucado e envergonhado, que não me fiz capaz de guardar seus sábios ensinamentos. Guardei poucos, negligenciei com outros tantos e fui deixando muitos pelo caminho.
Saí de Chorrochó tropeçando em minha ignorância relativamente ao norte do saber e até hoje sonho em aprender alguma coisa deixada nalgum lugar do passado. Difícil, para quem vive às voltas com os buracos da memória, porque a juventude se distanciou nos esconderijos do tempo. Ah! Como se distanciou!
Em seu mister, a professora Maria Therezinha de Menezes era didática ao extremo, criteriosa e essencialmente prática. Formal, atenciosa, admirável.
Já se disse, por aí, que não fica bem a pessoa escrever sobre suas próprias memórias e continuar vivendo. Deve ser. Mas não sofro desse mal, não corro esse risco. Conto a história dos outros, porque não construí, em meu caminhar, nenhuma história pra contar.
Assim, o faço relativamente à professora Maria Therezinha de Menezes, honra e glória de Chorrochó. Espero poder contar com sua compreensão no que concerne à pobreza do texto. De fato, não fui um bom aluno de Português.
Parabéns pelo aniversário, insigne mestra.
araujo-costa@uol.com.br