Chorrochó, conversa de domingo e outras conversas

Em política, como no jornalismo, nenhum pormenor é supérfluo.

Em abril de 2018 este Blog solicitou uma entrevista ao ínclito e combativo vereador Luiz Alberto de Menezes (PT), de Chorrochó, mais conhecido como Beto de Arnóbio, líder querido e admirado por todos.

O contato foi feito por intermédio do brilhante advogado Luiz Alberto de Menezes Filho (Betinho), filho do vereador e também conspícuo chorrochoense, que muito prezo.

O vereador não negou formalmente a entrevista, mas não demonstrou nenhum interesse, o que dá no mesmo. E aqui entra o pormenor – que não é supérfluo – mas isto não vem ao caso, agora e por enquanto.

Dizia o jornalista, escritor, radialista e político Raimundo Reis, admirável baiano de Santo Antonio da Glória, que “a história não se escreve pela vontade dos homens. É uma conspiração das circunstâncias”.

Daí, até entendo a insignificância deste escrevinhador como advogado e jornalista, mas o excelentíssimo vereador, um dos pilares do Partido dos Trabalhadores (PT) na região, poderia pelo menos ter considerado minha modesta condição de conterrâneo e admirador do município de Chorrochó, o que não é nenhuma novidade, embora isto não me retire a insignificância.  

Na mesma ocasião, outro político de Chorrochó a negar tacitamente entrevista a este Blog foi o vice-prefeito Dilan Oliveira (PCdoB), ilustre chorrochoense filho de Antonio Bosco de Oliveira. Feito o contato, silenciou, não deu reposta, o que basta para bom entendedor.

Bosco faleceu em abril de 2020, um dos homens mais corretos que conheci em minhas trôpegas andanças.

Bosco era um senhor circunspecto, de bom caráter, cordial, observador, atento às coisas de Chorrochó, de modo que o vice-prefeito Dilan herdou boas qualidades do pai e é uma das agradáveis revelações que Chorrochó produziu politicamente. Tem lastro político e futuro previsível.

O antigo e getulista Partido Social Democrático (PSD), fundado em 1945 por ex-interventores do Estado Novo, cultivou por décadas, uma doutrina curiosa, mas verdadeira: em política, há sempre os que estão por baixo e querem subir e os que estão por cima e não querem descer.   

O PSD foi extinto em outubro de 1965 pelo Ato Institucional número 2 (AI-2), editado pelo presidente Castelo Branco e o resto da história dos partidos políticos todos conhecem.

Hoje temos um amontoado de excrescências partidárias que abrigam políticos de toda ordem, inclusive mentecaptos, hipócritas, loroteiros, enganadores, rapinantes do dinheiro público, et cetera.  Mas esta é outra história.

Presumo que esses políticos de Chorrochó que se negam ou não gostam de conversar com algum jornalista devem continuar no páreo nas próximas eleições municipais, afinal quem está embaixo quer subir e quem está em cima não quer descer.

Entretanto, precisam vislumbrar que a imprensa é um dos sustentáculos da democracia, mesmo que não gostem de eventual entrevistador ou jornalista ou não lhe deem importância.

Para o jornalista que não obteve entrevista isto não faz qualquer diferença, não tem nenhuma importância, mas para o político faz, com ou sem mandato. O político precisa explicar suas propostas, convencer a população que é a melhor opção, tornar-se cada dia mais visível diante dos munícipes.

Em Chorrochó, o político e ex-prefeito José Juvenal de Araújo deixou exemplos de notabilidade, humildade e sabedoria quanto à maneira de fazer política sem nunca se elevar em direção ao pedestal da arrogância. Esteve sempre no pé da escada.

Outro exemplo monumental de humildade e decência foi o político e ex-prefeito Dorotheu Pacheco de Menezes, honra, glória e baluarte da história de Chorrochó. Seu poder e liderança se sustentavam mais na humildade do que na sabedoria política.

“Humildade e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”, diz o ditado. Tampouco arrogância é passaporte para atingir as melhores posições no cenário político, mas talvez seja a maneira mais eficiente de provocar quedas estrondosas.

Empáfia não se coaduna com política. Aliás, não se coaduna com nada.

Confesso que as perguntas cuidadosamente elaboradas para o vereador e o vice-prefeito laboravam no campo da decência jornalística, desprovidas de quaisquer maledicências ou viés que pudessem arranhar a alta importância daqueles senhores, até porque o Blog não tem essa pretensão, nem deseja alcançá-la.  

A “conspiração das circunstâncias” de que falava Raimundo Reis pode colocar esses políticos na próxima cena eleitoral de Chorrochó.

Certamente estarão mais amadurecidos e talvez enxerguem com mais sabedoria o papel democrático da imprensa, mesmo que em alguns casos para eles seja desnecessária e o jornalista não tenha lá tanta ou qualquer importância.

araujo-costa@uol.com.br

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