
A indicada para ministra da Cultura do governo Lula da Silva é Margareth Menezes, cantora baiana de samba-reggae.
A preferida de Lula continua sendo a atriz Marieta Severo, ex-mulher do cantor e intelectual Chico Buarque e amiga pessoal do presidente eleito, mas sabe-se que ela declinou do convite, por enquanto.
Margareth Menezes sempre apoiou o grupo político de Antonio Carlos Magalhães no tempo do antigo PFL e tinha ACM como “um dos motivos de maior orgulho da Bahia”, o que não é nenhum exagero.
Entretanto, na década de 1990, Margareth Menezes passou a ser aliada do PT, mas o governador Rui Costa e futuro ministro da Casa Civil de Lula já se apressou em dizer que Margareth Menezes “não é de esquerda” e, talvez por isto, o PT não digeriu muito a indicação da cantora para comandar a cultura que, segundo consta, é um pedido da mulher de Lula e, como tal, precisa ser atendido.
Mas há um quiproquó. Margareth indicou Zulu Araújo, ex-diretor do Olodum e amigo de Gilberto Gil, para seu secretário executivo, mas o PT vetou e disse que o cargo será do historiador Márcio Tavares, secretário nacional de cultura do partido e o empurrou goela abaixo da cantora baiana e deu como caso encerrado. Entretanto, em política tudo pode mudar a qualquer momento.
Já de início, o PT fez de Margareth Menezes uma ministra faz-de-conta que sequer pode escolher seu principal auxiliar.
O diabo é que Margareth Menezes está enrolada com a Receita Federal, em razão de dívidas que superam R$ 1,1 milhão, embora isto não seja nenhum defeito, nem impedimento de ordem moral para assumir o cargo.
Segundo a revista Veja, citada em edição de O Globo, “a cifra se refere a impostos não recolhidos pelas empresas Estrela do Mar Produções Artísticas e MM Produções e Criações, responsáveis pela produção de espetáculos e gravação de discos de Margareth. Uma delas, de acordo com auditores, recolhia o INSS de seus empregados, mas não repassava à Previdência”.
Mas isto em si, não é problema. Dever não é e nunca foi defeito. Neste Brasil de pobres e miseráveis, dever impostos é a regra geral que atinge os mortais comuns.
Entretanto, o diabo é que “o Tribunal de Contas da União (TCU) detectou, há dois anos, irregularidades num convênio assinado, em 2010, entre a Associação Fábrica Cultural — ONG fundada por Margareth — e o Ministério da Cultura, no último ano do governo Lula” (O Globo, 16/12/2022).
Trata-se de dinheiro público destinado a ONG da futura ministra, cujo destino está sendo questionado. Pode ser apenas uma falha na prestação de contas, mas pode ser incapacidade de gerir recursos públicos. Não se sabe, ainda.
Sendo assim, não ficará bem para uma ministra da Cultura pendurar-se em irregularidades com o ministério que estará sob seu comando. Soa esquisito, imoral, indecente.
Como ser de esquerda não é nenhuma qualificação para ser ministro da Cultura – e em política valem mais os símbolos e as entrelinhas do que os fatos – a afirmação de Rui Costa no sentido de que “Margareth Menezes não é de esquerda” pode significar que ele faz parte da turma do PT que não a quer como titular do ministério. E Rui Costa será um dos ministros mais poderosos do governo Lula.
Encontrei Margareth Menezes somente uma vez na vida. Foi nos antigos estúdios do SBT, no Sumaré, em São Paulo, quando ainda não existia a atual e grandiosa estrutura da emissora em Osasco.
Desenvolta, sorriso largo, apaixonada pela cultura baiana, parece se confirmar hoje sua seriedade com o que faz desde muito jovem.
Se o PT deixar, será uma boa ministra da Cultura.
araujo-costa@uol.com.br