Há, nas praias, um crustáceo cavador chamado corrupto.
É difícil capturá-lo porque, ao primeiro sinal de ameaça, ele se infiltra na areia e desaparece.
Habita as areias litorâneas.
Mas há outro tipo de corrupto, que se instala em gabinetes, amparado por mandatos, eletivos ou não, concurso público ou indicação de amigos influentes e poderosos.
Também é difícil capturá-lo, porque este tipo de corrupto se infiltra no poder, enrola-se nas benesses, lambuza-se nas mordomias, apega-se ao padrinho que o indicou para o cargo e se vai em direção ao desmoronamento de seu caráter, confirmando-se um verdadeiro mentecapto.
Habita as cidades, quaisquer que sejam elas, pequenas, médias, grandes, metrópoles.
Esses corruptos acham-se intocáveis, absolutamente intocáveis. E são intocáveis, porque ninguém se atreve a questioná-los, enfrentá-los, empurrá-los para sua insignificância moral.
São arrogantes e se espelham na máxima “sabe com quem está falando?”. Flexibilizam o caráter a troco de dinheiro, fama e poder, descem ao esgoto da promiscuidade, chafurdam na lama do maucaratismo.
Esses corruptos andam de jatinhos próprios ou de amigos, encastelam-se em mansões, frequentam hotéis caríssimos, rodeiam-se de dezenas e até centenas de servidores, tais como motoristas, auxiliares diversos e até limpam as nádegas com papel higiênico comprado com o dinheiro proveniente de impostos que todos nós pagamos.
Esses corruptos espalham-se pelo Congresso Nacional (Câmara e Senado), Poder Judiciário, Poder Executivo, Assembleias Legislativas, Palácios Governamentais, Câmara de Vereadores, Prefeituras, estatais, autarquias, empresas públicas, et cetera.
Há corruptos no Judiciário que vendem sentenças, acertam propinas e participam de jantares nababescos; há corruptos no Executivo que surrupiam verbas públicas através de empreiteiras e fornecedores do poder público; há corruptos no Legislativo que manejam verbas públicas em benefício próprio e de seus apaniguados.
Corruptos desse naipe são hábeis negociadores diretos ou por intermédios de terceiros, mas no exercício de seu mister são preguiçosos, vaidosos, interesseiros.
Essas excelências corruptas se escondem atrás do poder e se arvoram entes superiores aos demais brasileiros. Em última análise, são nojentos imbecis que sustentam a vaidade à custa de dinheiro público. Ilicitamente, impunemente, vergonhosamente.
Pergunta-se:
Há leis que os punam?
Não, não há. Evidente que não há. A lei serve para punir pobres, oprimidos, desvalidos, inocentes, desamparados, famintos, relapsos da vida social.
A lei não alcança corruptos de alta posição. Nunca os alcançará. Só se for para beneficiá-los.
E ainda os chamamos de Excelências.
araujo-costa@uol.com.br