“A conspiração está em marcha, mas vergar eu não vergo” (Jânio Quadros, 1917-1992)
Dia do soldado, 25.08.1961: Sob a égide da Constituição de 1946 e eleito em votação histórica com 48% dos votos, Jânio da Silva Quadros renunciava à presidência da República, depois de participar de solenidade militar em Brasília.

Assim como hoje, o Brasil estava em crise, experimentando momentos de turbulência política, incompreensão generalizada e incapacidade dos homens públicos de resolverem os problemas nacionais.
Entretanto, a prática da corrupção não habilitava políticos para ascenderem a cargos públicos, tampouco os credenciava para disputas eleitorais. Ao contrário, inabilitava-os para o exercício da vida pública.
Jânio Quadros alegava que o Congresso Nacional e a elite política não o deixavam governar.
Naquela quadra do tempo – 1961 – a situação era menos grave. O Supremo Tribunal Federal não se imiscuía em política partidária, como hoje, nem se envolvia em assuntos privativos do Legislativo.
Ministros do STF não se reuniam às escondidas com líderes partidários, nem participavam de regabofes em casas de políticos.
Os ministros do Supremo Tribunal Federal eram magistrados mesmos, o que conferia grande respeitabilidade ao tribunal e à nobreza da toga.
Jânio Quadros era ético, extremamente ético.
Ética, para quem não sabe – e ninguém tem obrigação de saber – é a ciência dos deveres. O que menos se vê, hoje, é autoridade pública cumprir o seu dever sem desvios de qualquer natureza.
A vaidade se sobrepõe ao dever, autoridades se transformam em vedetes diante de holofotes e vivem à procura de jornalistas para pedir entrevistas ou fazer declarações.
Nos dias de hoje, há uma degenerescência generalizada de caráter das autoridades. As exceções são de fato, poucas, pouquíssimas.
Magistrados se transformam em ditadores, de modo que, para eles, o que menos importa é a lei, mas o submundo de suas vaidades sustentadas pelo dinheiro público.
Jânio não era assim. Preferiu sair.
Conheci Jânio Quadros, frequentei sua casa em São Paulo e fiquei impressionado com sua altivez e firmeza de caráter, qualidades que faltam nos políticos de nosso tempo.
“Não nasci presidente da República. Nasci sim, com a minha consciência. É a esta que devo atender e respeitar”, disse Jânio. E foi embora.
Jânio não arranhou seu caráter, não ficou de cócoras diante da desmoralização, não se curvou a interesses espúrios.
Tinha uma maneira peculiar de atender ao telefone. Ele mesmo o fazia, sem arrogância, sem assessoria, sem ajudantes:
– “Aqui Jânio, sim”.
Hoje, quando vejo presidente da República descer ao submundo da política, sendo vaiado e falando asneiras, bate uma saudade danada de Jânio Quadros.
O Brasil precisa de estadista, a exemplo de Jânio Quadros e Juscelino Kubitscheck.
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