“Quem luta para não ser oprimido pode se tornar opressor” (Léo Gilson Ribeiro, crítico literário, 1930-2007)
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) abriga a nata da esquerda católica, pulverizada, de início, através das chamadas “inclusivistas” Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) vinculadas à Teologia da Libertação, que pugna pela “preocupação social com os pobres e a libertação política dos povos oprimidos”.
O silêncio da Igreja Católica do Brasil relativamente a algumas atrocidades que estão acontecendo no Brasil e no mundo coincide e condiz com a terceira subida de Lula da Silva ao poder, pupilo mais caro da CNBB e do clero brasileiro.
Gigante na luta contra a opressão da ditadura militar (1964-1985), tendo à frente o combativo D.Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo de São Paulo e D. Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, a Igreja Católica se acomodou e hoje não vê a opressão passar ao lado. Querendo ou não, faz vistas grossas relativamente aos opressores de plantão.
Onde está a defesa pela “libertação política dos povos oprimidos”?
Quaisquer que sejam as formas, as ditaduras não merecem acolhida de seus nacionais e tampouco de instituições sérias a exemplo da CNBB que está de cócoras diante de poderosos de ocasião.
Na Nicarágua, país governado por um ditador, o presidente de lá mandou condenar o bispo de Matagalpa, Dom Rolando José Álvarez Lagos, a 26 anos de prisão. Crime do prelado: fazer oposição à ditadura de Ortega.
O Judiciário de lá é subserviente à ditadura. Condenou o bispo como “traidor da pátria” e mandou trancafiá-lo até o ano de 2049.
O bispo é acusado pela ditadura de “conspirar para minar a integridade nacional e propagação de falsas notícias através das tecnologias da informação e da comunicação em detrimento do Estado e da sociedade nicaraguense”, conforme a TV Canção Nova, 13/02/2023.
Qualquer semelhança com acusações que nosso Poder Judiciário vem atribuindo a alguns brasileiros será mera coincidência. A ditadura aqui é outra, mas já estamos beirando à fase da escuridão.
O ditador Daniel Ortega já determinou “o fechamento de estações de rádio católicas, a obstrução do acesso às igrejas pela polícia e outros atos graves que perturbam a liberdade religiosa e social”, diz a Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia, que protestou veementemente.
Mais: em data recente o presidente da Nicarágua expulsou 222 opositores do país, dentre esses padres e seminaristas e retirou-lhes a cidadania nicaraguense “por toda a vida”.
A Igreja Católica do Brasil, por pusilanimidade ou leniência, não se manifesta inequivocamente sobre essa perseguição religiosa do ditador da Nicarágua, tampouco sobre os inegáveis excessos que estão acontecendo no Brasil, que caminha a passos largos para momentos de truculência e restrição de direitos, mormente no que concerne à censura e ao controle dos meios de comunicação e consequente sufocamento da liberdade de expressão.
Como se vê, falta à CNBB, pelo menos, expressa manifestação de solidariedade à Conferência Episcopal Nicaraguense.
A Igreja Católica Romana é una, santa e apostólica. É a mesma na Nicarágua. É a mesma no Brasil. É a mesma no mundo.
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