Já se vão, por aí, alguns anos.
Lançamento de livro numa livraria de São Paulo.
Não fui convidado pelo autor, tampouco pela editora, mas dei uma de enxerido e fui.
Aliás, em lançamento de livro, o convite é prescindível. Não precisa convite, porque o evento em si é uma peça publicitária. Quanto mais pessoas presentes, melhor para o escritor. São potenciais compradores de livros, possíveis leitores de amanhã.
Mas quando somos convidados, isto nos dá um quê de importância. A gente fica se achando e se perdendo e acaba mesmo é se perdendo nos escombros da vaidade e da ingenuidade.
Fiquei por ali, conversando amenidades com os convidados do escritor e com outras pessoas que, suponho, também não eram convidadas, mas estavam ali, talvez na mesma condição que a minha.
Conversa vai, conversa vem, notei que dois sujeitos confabulavam ao meu lado e entre eles travou-se o seguinte diálogo:
“Este aí ao lado é o Walter, não é?” – perguntou um.
“É ele sim. Ele escreve umas baboseiras por aí e a gente acaba lendo” – respondeu o outro.
Não falaram comigo. Sequer cumprimentaram.
Saíram, escafederam-se. Daí acabei concluindo que nunca fui importante. Uma descoberta e tanta que me fez descer à seara da humildade, lição que vale até hoje.
Depois dos salamaleques de praxe, também me retirei do local, que já havia se transformado num burburinho só e fui tomar um uísque num boteco da histórica Rua Maria Antonia.
Já escorregando em direção à velhice, naquele tempo eu bebia.
No caminho de volta, fui conjecturando e refletindo até chegar ao meu esconderijo e me lembrei da citação que o escritor mineiro Fernando Sabino gostava:
“O escritor é um homem que passa a vida conversando consigo mesmo. Só há uma verdadeira vantagem em envelhecer: é que, com o correr do tempo, a conversa vai ficando cada vez mais interessante”.
Lembrei-me de outra, do poeta também mineiro Carlos Drummond de Andrade:
“Só escreva quando de todo não puder deixar de fazê-lo. E sempre se pode deixar”.
Teimoso, na parte que me toca, vou por aqui escrevendo minhas baboseiras.
Ainda há quem lê algumas.
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