Patetismo jornalístico

“Vamos supor que você fosse um idiota. E vamos supor que você fosse membro do Congresso. Mas estou me repetindo.” (Stanislaw Ponte Preta, jornalista e escritor, citado em brilhante artigo de Muniz Sodré, professor emérito da UFRJ, Folha de S.Paulo, 25/06/2023)  

O texto do professor Muniz Sodré trata do recente projeto de lei aprovado pela Câmara dos Deputados que “criminaliza a malevolência verbal contra seus próprios membros, parentes e colaboradores” e ao qual já me referi em artigo neste blog em 16/06/2023 sob o título Deputados aprovam: “Sabe com quem está falando? ”   

Entretanto, cuido aqui do jornalismo capenga, insincero, moralmente deturpado.

O jornalista lulopetista radical é tão patético quanto o jornalista bolsonarista radical. Não sabe – ou não quer saber – a diferença entre a profissão que exerce e a ideologia que professa.

O messianismo de Lula da Silva produziu mentecaptos, néscios, fanáticos, parasitas, desorientados.

O extremismo de Bolsonaro também produziu mentecaptos, néscios e fanáticos, mas também desnorteados, tontos, confusos.  

Nesse tempo de falta de juízo por que passa a sociedade, coadjuvada pelo exagero imbecilizado da chamada grande imprensa, jornalistas patéticos saem das catacumbas da idiotice e deformam a isenção e seriedade da informação.

Os exemplos abundam.

Comentaristas, antes considerados sérios, se engasgam em suas próprias palavras tentando justificar erros de políticos encastelados no poder, que eles admiram e, mais do que isto, veneram.

Afiguram-se constrangedores comentários tendenciosos de apresentadores de telejornalismo, comentaristas e até, às vezes, repórteres, tropeçando nas palavras em defesa de assuntos impregnados de ideologia e não de informação propriamente.  

Perguntar-se-á: E daí?

Daí, é fácil explicar. Quem escreve tem o dever de assistir a tudo, ler tudo, ouvir tudo, ficar atento a tudo, embora isto se transforme num exercício hercúleo para evitar enfarto, tamanhas as idiotices intragáveis que partem desses jornalistas que abdicam de suas ideias para ajustar-se à vontade econômica de seus patrões (jornais, televisões, rádios,etc) e ao medo de perder seus empregos e salários.

Apequenam-se, mutilam a profissão, espremem-se entre o dever e a degenerescência moral e o resultado é a perda da credibilidade, que a cada dia se esvai.   

O filólogo e dicionarista Antonio Houaiss, também citado na Folha de S.Paulo em texto de Ruy Castro, em casos como esses, diria: “Peço vênia para discrepar”.

Eu discrepo desse tipo de jornalismo patético, que mira diuturnamente os cofres dos grandes grupos de comunicação e não tem o menor respeito a quem o lê e assiste.

Que diferença faz para o leitor se o jornalista que diz ou comenta a notícia é lulopetista ou bolsonartista?  Se votou na direita, no centro ou na esquerda?

Entretanto, há jornalistas que fazem questão de deixar claro ostensivamente, sem o menor pudor, o viés político e o lado ideológico que defendem. É como se estivessem justificando: votei em você.

Isto desnatura a notícia e a opinião do jornalista.

A frase atualíssima de Stanislaw Ponte Preta também vale para esse jornalismo patético de nossos dias.

Mas nem tudo está perdido. Ainda há bons jornalistas, sérios profissionais na imprensa.

Fernando Gabeira, esquerdista de respeito, em cinquenta anos de jornalismo, não se vergou à pequenez do jornalismo de hoje. É um camaleão que se molda de acordo com o ambiente, mas mantém intacta sua índole de bom e respeitável profissional.   

No exílio, Fernando Gabeira viveu na Argélia, “um país fortemente moralista, onde era necessário seguir as regras”, segundo ele conta no livro O crepúsculo do macho (Editora Codecri, Rio de Janeiro, 1980).

Talvez lá ele tenha aprendido a seguir as regras e não misturar alhos com bugalhos, como fazem esses jornalistas ideológicos de hoje.

 araujo-costa@uol.com.br

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