A farda da discórdia

Tenente-coronel Mauro Cid/Pedro Ladeira/Folhapress

Desde jovem – vai longe no tempo – aprendi a respeitar as instituições, qualquer que seja a natureza delas e o papel que ocupam na sociedade, de modo que não importa se civil, militar, religiosa etc.

Se o contrário fosse, as autoridades e instituições democraticamente constituídas não sustentariam os andaimes da construção social.

Alguns membros da chamada CPI de 08 de janeiro, mormente a esquerda diurética de um modo geral e mamadores dos cofres públicos estrilaram porque o tenente-coronel Mauro Cid compareceu fardado à CPI.

O Exército explicou o óbvio às confusas e pequeníssimas mentes parlamentares, desanuviando-as: o tenente-coronel Mauro Cid está sendo acusado e investigado pela prática de supostos crimes cometidos no exercício de função militar, qual seja ajudante-de-ordens do então presidente da República.

Mais: salvo melhor juízo, a função é privativa de militar da ativa, de modo que o uso da farda não caracteriza nenhuma afronta ao Exército e tampouco à CPI.  

Diz a imprensa que o presidente Lula da Silva, que é o comandante-em-chefe das Forças Armadas, também se irritou porque o tenente-coronel compareceu fardado ao depoimento, embora esse seja um assunto do Poder Legislativo e não do presidente da República.

Quanto a Lula da Silva, deixa pra lá. Ele não anda muito bem.

A desnecessária manifestação de Lula certamente arranhou os pilares da relação de confiança com seu ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, mesmo de forma involuntária e mesmo que se negue isto. 

O ministro é sabidamente moderado, responsável, contemporizador e tem juízo.  

Ora, se o ministro da Defesa amparou moralmente o uso da farda pelo tenente-coronel Mauro Cid, a irritação de Lula da Silva não tem razão de ser. Este é um assunto adstrito ao Exército e ao ministro da Defesa, segundo suas atribuições.  Em última análise, assunto para ser discutido no âmbito da CPI e não do Poder Executivo.

Entretanto, essa CPI do 08 de janeiro, assim como todas, tem em suas fileiras, mais caçadores de holofotes do que parlamentares que se disponham a fazer um trabalho sério.

Mas esse assunto ainda vai longe.

O fato é que nossos parlamentares são despreparados quando se tratam de assuntos sérios, mas preparadíssimos, quando discutem a aprovação de projetos em benefício próprio.

Vide o caso do recente projeto aprovado pela Câmara dos Deputados que beneficia vergonhosamente parlamentares, parentes, assessores e uma casta de autoridades e servidores públicos, todos pagos com dinheiro do contribuinte.

Hipocrisia. Embora vivam se engalfinhando no dia a dia, quando se trata de votar leis em benefício próprio, esquerda e direita se unem, o que significa dizer que se igualam.  

Qualquer primeiranista de direito sabe que o tenente-coronel Mauro Cid se crime cometeu – e parece que sim – o fez no exercício de função militar. Logo, a farda é uniforme de trabalho e não uma afronta a Suas Excelências membros da CPI.

araujo-costa@uol.com.br

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