“Eu não existiria sem minhas repetições” (Nelson Rodrigues, jornalista e escritor, 1912-1980).
Leitor atento reclamou – melhor dizendo, ponderou – que sou muito repetitivo em minhas crônicas.
Tem razão. Até as caraibeiras são repetitivas. Elas florescem todos os anos e nem por isso deixam de ser belas, assim como todas as árvores que florescem periodicamente.
É que a vida é uma sequência de passos, mas sempre inarredavelmente ligados ao passado e, por isso, repetitivos.
Exemplifico. Há alguns anos, escrevi sobre um amigo de juventude, em Chorrochó, Antonio Euvaldo Pacheco de Menezes. Já repeti aquela crônica outras vezes. Entendo que amizade não acaba ou, pelo menos, nunca deveria acabar, mesmo in memoriam.
Todavia, espaçam-se as certezas entre amizades que tivemos ao longo do tempo e as que ficaram ou o que resta delas. Mas sempre resta alguma coisa que alinhava o caminhar, impulsiona o viver e cutuca a saudade.
Mas amizades também fracassam. Isto é o que atestam o burburinho e o fervor da juventude somados à frieza cruel do amadurecimento e ao caminho do tempo em direção à velhice.
Ficaram as boas amizades que perduram, se ainda não se foram em direção à finitude da vida, porque – todos sabemos – o indizível da morte é inevitável.
Ouvi muitas vezes reflexões sobre portas e janelas que se fecham, em meio às incertezas e aos sonhos da mocidade. As amizades também fecham portas e janelas.
Em Chorrochó, o amigo Antonio Euvaldo Pacheco de Menezes (Totó, para os amigos e Corró para o irmão Ernani do Amaral Menezes), que tinha nome de nobre português e não está mais por aqui, deixou-me algumas reflexões.
Antonio Euvaldo foi-se antes do combinado, como se diz no interior de São Paulo, mas as frases que ele tanto dizia e repetia sobre o andar da vida continuam cutucando a saudade e dilacerando os momentos quando me recolho à solidão.
Nunca esqueci suas reflexões nas ocasiões de tropeços, que foram muitas, são muitas, continuam sendo muitas.
Além dele, lembro alguns outros amigos. Muitos deles conhecidos nas esquinas da vida e no ziguezaguear do tempo.
O que é a saudade senão uma constante repetição?

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